quarta-feira, 29 de junho de 2011

Alive! 11 - A não perder #2: The Naked and Famous

Os Naked and Famous estão para 2011 como os School of Seven Bells estavam para 2010. Aliás, os Naked and Famous já os Passion Pit de 2011. Melhor: os Naked and Famous são os Cut Copy da Nova-Zelândia - e a Austrália ali ao lado. Daqui a uns tempos podemos já nos ter esquecido deles, mas celebremos pois o presente da banda de Alisa Xayalith, Thom Powers e companhia. Nas canções em que as guitarras cantam mais alto, perdem-se, mas é em canções como "Punching in a Dream" E "Young Blood" que está o motivo de festa.

























terça-feira, 28 de junho de 2011

[Reportagem] Ryan Adams - 16 de Junho - Aula Magna

Primeiro M. Ward, depois Sufjan Stevens e agora Ryan Adams. Os últimos meses foram generosos para fãs do country e da folk do início da última década. O único que terá mudado radicalmente - a um nível meramente musical - é Sufjan Stevens que também terá sido responsável pelo melhor dos três espectáculos.

O de Ryan Adams, no passado dia 16 de Junho, decorreu aos soluços - um ataque de soluços terá sido uma das poucas coisas que não lhe aconteceram durante o concerto -, o músico é distraído, trapalhão e desajeitado. Antes do espectáculo, para além dos folhetos distribuídos à entrada, ouvimos a mensagem em português e em inglês, a mensagem que apelava ao não uso o telemóvel durante o espectáculo. Mais: Ryan Adams, conhecido por um certo mau feitio que acabou por não se confirmar, recusou ser fotografado.

Com o espectáculo a meio chegou a desabafar: “não acredito que isto possa piorar”. Não estava a exagerar. Logo na primeira canção, a harmónica pregou-lhe umas quantas partidas. Ryan não foi meigo: bateu-lhe e gritou-lhe: “acorda!”. Curiosamente, a sua relação com a harmónica melhorou substancialmente até ao fim. Depois vem o humor (muitas vezes auto-depreciativo). No intervalo de duas canções, atira: “A actuação do Jesse Malin [o músico que assegurou a primeira parte] é como uma festa no quintal, a minha é como uma ida ao dentista”. Numa altura em que fazia algumas mudanças no palco: “Gostava de poder chamar um técnico de som, mas eu sou o técnico de som”.

Num concerto acústico e intimista, Ryan Adams, sozinho em palco, passeou-se pela sua discografia (já la vai uma década) que tem tanto de Bob Dylan como de Bruce Springsteen, fez uma versão de uma canção dos Cowboy Junkies e apresentou uma ou outra nova canção. Podemos não ter tanta fé no autor de “Gold” como tínhamos em 2001, mas Ryan não tem uma canção que justifique o seu desaparecimento – sim, chegou a ser equacionado.

Com a única guitarra que traz para a digressão, a guitarra com a qual escreveu quase todas as suas canções e que um dia será, com toda a certeza, vendida no eBay a peso de ouro, Ryan Adams deu um belo espectáculo, desligado da corrente, sem telemóveis, sem iPads e, mais importante, sem palavras em português. Os “Obrigados” foram “Thank yous” - até porque não é necessário converter uma plateia que já está convertida.

Publicado originalmente em Ruadebaixo.com

domingo, 26 de junho de 2011

Alive! 11 - A não perder #1: James Blake

Para quase todos é o dia de Coldplay, para nós é o dia da estreia de James Blake em Portugal. Não é que o disco nos tenha seduzido logo à primeira, mas é daqueles que cresce com o tempo. Pós-dubstep ou dubstep de câmara, Blake é o que lhe quiserem chamar. Geoff Barrow (Portishead) foi mais longe, "twittou" algo como: "Será que esta década vai ser lembrada como a década em que o dubtep se encontrou com os cantores pub?", numa clara provocação. E se os rótulos valem o que valem, os vídeos aqui em baixo não enganam - contra todas as expectativas, a música de James Blake sobrevive em festival e leva o dubstep às massas. Faça-se o silêncio, vamos ouvi-lo.










sábado, 25 de junho de 2011

[Reportagem] Pop Dell'Arte - 9 de Junho - Musicbox


Em 1987 ainda não tinha caído o muro, nem a União Soviética. Em 87 não tínhamos assistido à Guerra do Golfo e, claro, os 11 de Setembro e de Março não eram mais que os dias em que se celebrava, por exemplo, o Dia Mundial do Rim. Em 87, em Dezembro de 1987 foi editado “Freepop”, álbum de estreia dos Pop Dell’Arte e um dos mais importantes documentos da história da música portuguesa. Naquela altura ninguém soava como os Pop Dell’Arte, tal como hoje ninguém soa da forma como eles soaram na altura. Na ressaca pós-punk que rendeu nomes como os Heróis do Mar, os Mler Ife Dada ou os GNR, os Pop Dell’Arte destacavam-se de outrem - o som não respondia a convencionalismos e João Peste parecia mais um louco do que um cantor. O que separou a crítica na altura em que a banda de Peste explodiu é o que a une hoje, no ano da graça de 2011 - o som único, longe de tudo o que se fazia na altura.

É interessante verificar que alguns dos mais importantes discos dos finais das décadas de 80 e início de 90 vão hoje sendo recriados ao vivo - é assim com “Screamadelica” dos Primal Scream – vamos poder ver tudo em Algés -, é assim com “Doolitle” dos Pixies e é assim, agora, com os Pop Dell’Arte. A diferença estará no facto de os portugueses não darem azo a regressões. Celebrou-se o passado por uma noite.

Nesta oportunidade única que rendeu uma óptima casa ao Musicbox, em Lisboa, a banda sobe a palco com mais de uma hora de atraso. Já com toda a banda em palco, João Peste surge, de camisa e gravata vermelha, desajeitado, mas só até surgirem as primeiras palavras de «Berlioz» - aí, nessa altura, fecha os olhos, abre os braços e balança-se, é assim todo um espectáculo, umas vezes de pé, outras sentado. “Freepop” é tocado na íntegra – e é tudo o que o título nos faz crer que é, é pop livre, poliglota, estragada, longe de tudo o mais. Seria hoje um OVNI, tal como foi em 87.

O público, mais velho que o habitual, aproveita para matar saudades - no meio da plateia, já depois da apresentação integral de “Freepop”, alguém que só podia estar bastante alcoolizado insiste, “toca New Order, a «Bizarre Love Triangle». A verdade é que por mais que o Musicbox se assemelhe por uma só noite ao Hacienda, o clube de Manchester que nos anos 80 reunia a melhor música, as melhores bandas e a melhor droga da cidade, os Pop Dell’Arte não entram em facilitismos.

Já no encore final, em «My Funny Ana Lana», João Peste deixa, sem querer, que o microfone se desligue. Nesta altura, um indivíduo, talvez um amigo, talvez um fã, também com bastante álcool no sangue, sobe ao palco, abraça Peste e mantém-se em palco a dançar aquele que, porventura, foi o maior sucesso dos Pop Dell’Arte até hoje. Peste, tal como a banda, reagem como se nada fosse e saem progressivamente do palco - primeiro o “invasor” com a ajuda de um segurança, depois o líder da banda e por aí fora. Histórico.

Publicado originalmente em Ruadebaixo.com

sábado, 18 de junho de 2011

[Reportagem] The Parkinsons - 4 de Junho - Caixa Operária

Pouco interessará se a música é tão só a soma de três acordes dispostos de variadas formas. De nada interessará o facto de os Sex Pistols já terem “inventado” isto há mais de três décadas. Pouco interessará verificar que a Caixa Económica Operária está a meia casa para receber uma das mais entusiasmantes bandas do final da década de 1990 e início da que se lhe seguiu, a dos zeros. Interessará pouco que John Peel, porventura, o mais influente radialista de todos os tempos, tenha considerado os Parkinsons uma das mais entusiasmantes bandas do seu tempo e que estes tenham aberto espectáculos para gente como os Fall ou os Jon Spencer Blues Explosion.

Interessa antes perceber que os Parkinsons voltaram a subir a um palco, interessa perceber que Afonso Pinto voltou a ser banhado em cerveja, a fazer a espargata, a incitar a plateia e a ser levado em ombros. Interessa perceber que voltámos a presenciar o caos num concerto dos Parkinsons. As canções a sucederem-se umas atrás das outras sem tempo para descansar ou respirar. Algum mosh, algum crowd-surf, várias invasões de palco. Afonso Pinto e Vítor Torpedo a provocarem a plateia. O prefixo “feios, porcos e maus” assenta melhor aos Mata Ratos – donos e senhores de uma primeira parte em que estiveram iguais a si próprios -, mas também acaba por se associar facilmente a esta malta que tem nome de doença crónica e que ajudou a construir uma cena, a de Coimbra, que ainda hoje é recordada com saudade e nostalgia – passe a redundância.

No final, apenas uma questão nos aflige: Fará isto algum sentido hoje, num tempo que parece já não ser o deles? Os saudosistas dirão que sim. Outros irão torcer o nariz. À entrada ouvimos alguém dizer, enquanto tentava comprar bilhete: “Não me lixem, eu quero ver Parkinsons, quero um bilhete”. Antes do encore ouvimos: “Vocês já foram bons”. A escolha é sua.

Artigo publicado originalmente em www.ruadebaixo.com

quarta-feira, 15 de junho de 2011

[Crítica] PJ Harvey - Let England Shake


PJ Harvey podia ter perdido a relevância - por mais podre que fosse a relevânica de PJ Harvey. Polly Jean podia ter perdido fãs - perdeu, concerteza, os que pouco ou nada interessavam. Let England Shake podia ter sido o canto do cisne (branco ou negro, tanto faz, tendo em conta o guarda roupa mais recente de Harvey) para a artista de Dry. Mas é o oposto, é aquilo que, acreditamos, Polly Jean já tinha procurado no antecessor White Chalk e é uma obra-prima. Arriscamos: dificilmente haverá neste ano da graça de 2011, um disco que nos atinja de forma tão arrebatadora como este, que nos desperte o mais variado tipo de emoções (tristeza, desespero, mágoa, ódio, esperança, etc).

Let England Shake espanca-nos do início ao fim, nós, ouvintes, levamos na tromba e, qual Mahatma Gandhi à rasca, damos a outra face e suplicamos por mais. É um disco político, de guerra, pessimista como os tempos que vivemos. "Let England Shake" é a visão pessimista de um soldado. Centra-se na Campanha de Gallipol, uma operação realizada no Império Otomano em plena I Guerra Mundial por franceses e britânicos - que pretendiam assegurar uma rota marítima para a Rússia. A operação falhou e, tal como hoje, arrastou-se pelo tempo (9 meses). É claro que intervenções no Afeganistão e Iraque não podem estar alheias a tudo isto. "I've seen and done things I want to forget / I've seen soldiers fall like lumps of meat / Blown and shot out beyond belief / Arms and legs were in the trees", dispara em "The Words that maketh murder" - PJ Harvey pode refutar a quantidade de vezes que achar necessário, mas não nos conseguirá convencer que isto não é um disco político. E ainda bem que o é - é isso que o torna ainda mais relevante hoje, numa altura em que a história já nos ensinou inúmeras vezes que o homem só tem alguma actividade cerebral "depois de esgotar todas as alternativas", já dizia Abba Eban há muito tempo atrás.

O facto de Harvey ter gravado numa igreja torna canções como, por exemplo, "On Battleship Hill" e "In the Dark Places" ainda maiores. Se em White Chalk a artista revelava graves dores de crescimento, uma enorme vontade de forçar a maturidade, em Let England Shake essa maturidade revela-se sem grande esforço.

Acompanhada pelos suspeitos do costume, John Parish e Mick Harvey, e por instrumentos que são uma novidade no universo de Polly Jean, como a citara e a auto-harpa (a Carter Family gostaria disto), a senhora que em tempos idos era uma menina de guitarradas sujas, fabricou aquele que é, provavelmente, o melhor "disco de guerra" de sempre.

Aos 40, PJ Harvey atingiu o topo, o cume de uma carreira que nunca como antes susciptou tantas expectativas. Independentemente de todos os elogios que lhe têm sido dirigidos, é provável que só daqui a uns anos venhamos a compreender a extensão deste trabalho de PJ Harvey. Uma obra-prima, um disco insuperável.

10/10











quarta-feira, 8 de junho de 2011

Playlist:

Quando calha, uma Playlist, uma lista com as 10 melhores canções que nos passaram pelos ouvidos, durante as últimas semanas:


1 - Fool's Gold - Street Clothes


2 - DJ Shadow - I Gotta Rokk


3 - Arctic Monkeys - Brick By Brick


4 - Sun Airway - Wild Palms


5 - Jamie Woon - Lady Luck


6 - The Cults - You Know What I Mean


8 - Arcade Fire - Speaking in Tongues (feat. David Byrne)


9 - Justice - Civilization


10 - Kanye West - Mama's Boyfriend

[Reportagem] Twin Shadow - 25 de Maio - Lux

Relativamente ao concerto de Twin Shadow no Lux, no passado dia 25 de Maio, tínhamos uma certeza – o som estaria melhor do que da última vez que lá tínhamos estado. A última visita ao Lux fora no dia 19 de Abril, dia de concerto de Best Coast. Concerto péssimo por várias razões, mas, resumindo muito bem a coisa, o som estava péssimo e, ao vivo, Beth Cosentino não canta um chavo.

Adiante. Twin Shadow é George Lewis Jr., um tipo que podia muito bem ser um actor de Bollywood mais charmoso que o normal. E é nesta altura, numa altura em que os Gayngs repescam clássicos mais ou menos pirosos, one hit wonders avulsos e fazem-se de pomposos românticos que recebemos um Twin Shadow que se atira de cabeça aos sons do passado, um passado em que conseguimos filtrar influências dos Smiths, Queen e David Bowie.

O disco, “Tyrant Destroyed”, foi criado durante o refúgio em Brooklyn (mais um). Antes, Shadow havia passado pela Suécia e é com admiração que lhe vemos sair, a meio do concerto algo como: “Não percebo porque é que os americanos vão todos para países como a Suécia e a Dinamarca. Portugal é bem melhor”. Caro George Lewis, os americanos nem sabem que existimos – para os mais letrados somos uma província espanhola. Agora estamos nas bocas do mundo pelas piores razões – infelizmente, talvez nos conheçam melhor agora.

“Tyrand Destroyed” foi tocado de uma ponta à outra – «Castles in the Snow» duas vezes, uma a meio, outra a fechar, mas não há material para encores. O espectáculo escapa-nos sem grandes problemas, mas também sem grandes sobressaltos. Percebe-se o burburinho, mas, ao vivo, falta qualquer coisa que nos faça chegar à conclusão que a quantidade de concertos do homem marcada para os próximos meses seja justificada. Em sala foi suficiente, mas como será em festival?

Texto publicado originalmente em www.ruadebaixo.com

quarta-feira, 1 de junho de 2011

[Reportagem] The National - 24 de Maio - Campo Pequeno

O concerto no Campo Pequeno, em Lisboa, foi, depois do belo concerto no Super Bock Super Rock, a consagração nacional dos The National – acreditamos que esta ideia também se aplique à data do Porto. Sala completa – havia apenas meia dúzia de cadeiras disponíveis, naqueles lugares que não interessam -, o público ideal e a ressaca do segundo disco perfeito consecutivo. Os National são um fenómeno, mas, ao contrário do que muitos possam pensar, não um fenómeno exclusivamente português – é um fenómeno global. Passar de banda de culto, capaz de esgotar a Aula Magna, a banda de salas como o Campo Pequeno ou um Coliseu foi uma questão de cinco álbuns de estúdio.

Começaram com a perfeita «Start a War», uma das melhores canções de Matt Berninger e companhia. Um arranque suave, a testar um público devoto, ávido pelas canções belas, perfeitas e que até hoje acreditávamos que perdiam um “qualquer coisa” - que mal sabíamos explicar – ao vivo.

As premissas de grande parte das canções dos National são simples: a canção começa lenta para ir subindo de intensidade até atingir um clímax – guitarras épicas que aspiram o céu, uma secção de sopros incessante e um Matt Berninger que ora é um animal domesticado ora se torna num selvagem, principalmente nas canções dos álbuns pré-“Boxer”. Isto poderia ser a fórmula secreta para qualquer banda conquistar o apreço da crítica. Não o é pela simples razão de que cada banda/artista faz destas premissas aquilo que quer/pode. É quase como uma aula de Matemática na escola primária – nas contas safam-se os mais espertos. Os National sabem que dois mais dois são quatro e que esse número ao quadrado é 16. Tão simples quanto isto – são bons, são os melhores da turma. Mas se a coisa em disco resultava, ao vivo continuava a faltar qualquer coisa, voltamos a teimar.

Então, o que raio tornou este concerto tão diferente de tantos outros que os National foram dando, ao longo dos últimos anos, em Portugal?

São várias as razões. Um: O concerto foi em nome próprio, o que só não coloca de parte os concertos na Aula Magna e de Guimarães – curiosamente, dizem muitos, os dois melhores concertos antes desta dose dupla de Maio de 2011; Dois: Os National cresceram e com isso o espectáculo melhorou. O pano gigante, no qual são projectadas imagens da actuação, é uma magnífica adição ao concerto; Três: Matt Berninger, o desajeitado vocalista da banda de Ohio, está mais intenso do que nunca, como ficou comprovado nos incentivos no momento mais especial da noite, «Vanderlyle Crybaby Geeks» – já lá vamos.

Arriscamos isto – à excepção do concerto dos Arcade Fire na Meca do indie que é o Super Bock Super Rock, não vamos ter este ano outro concerto em que se sinta uma tão grande partilha entre público e banda. Começámos, já referimos, com «Start a War», espécie de aquecimento, para o que se seguiu. Seguimos por ali fora com «Anyone’s Ghost», «Secret Meeting» e «Bloodbuzz Ohio» – esta última a tornar o Campo Pequeno, pela primeira vez, numa só voz. Em «Squalor Victoria», Berninger dá os primeiros sinais de loucura mediada, que viria a confirmar, como é costume, em «Abel» e «Mr November» – nesta última não nos “braços de chefes de claque”, mas de fãs – todos eles número um, porque com os National a devoção é total. O melhor, claro, ficou guardado para o fim. Primeiro, antes do encore, «Fake Empire» – os gémeos Dessner nos (belos) coros, o baterista Bryan Devendorf – um dos melhores da sua geração - em alegre cavalgada, Berninger ao volante e o público ora deixando-se levar ora tentando-se sobrepor à voz da banda.

Dava para ainda tirar outro coelho da cartola? Dava, deu – os cinco desligam a amplificação e avançam para mais perto do público. Seguiu-se uma versão acústica de «Vanderlyle Crybaby Geeks», um momento mágico e todo ele de partilha entre banda e fãs – duvidem se o fã mais durão vos disser que não deixou verter uma única lágrima durante estes inesquecíveis três/quatro minutos. O concerto dos National foi mágico, no limite do absurdo, insuperável. Próximo passo: ser cabeça-de-cartaz de um festival português, aquele que fica a Sudoeste – sim, já ultrapassaram os Interpol.

Artigo originalmente publicado em www.ruadebaixo.com

[Reportagem] CCBeat - Diabo na Cruz + Linda Martini - 18 de Maio - Centro Cultural de Belém

Calhou em sorte que no dia em que um tal de Harold Camping, engenheiro civil reformado de 89 anos, previu o fim do mundo (21 de Maio de 2011) - pela segunda vez na sua carreira como anunciante de “não acontecimentos” –, o rock português desse mostras de uma inegável vitalidade num bem composto Centro Cultural de Belém. Diabo na Cruz e Linda Martini, isto é, o presente do rock, isto é, as duas melhores bandas rock da actualidade, a par d’Os Golpes.

Primeiro o grupo de Jorge Cruz, João Gil, B Fachada, Bernardo Barata e João Pinheiro – agora também com Manuel Pinheiro na percussão. Os Diabo na Cruz são mais banda do que da última vez que os vimos. No Sudoeste, edição de 2010, quase montaram um arraial no palco secundário do festival da Zambujeira do Mar. A festa foi tal que, a certa altura, acreditámos que seria concerto para palco principal.

Sem grandes paragens (contámos uma, nessa altura o palco estava um caos), as canções do prometedor disco de estreia sucedem-se, alternando com as novas – todas óptimas. Os teclados marados e as guitarras ressuscitadas pelas bandas new-wave/pós-punk surgidas ao longo da última década de «Ai é Tão Lindo», a festa de bairro suburbano que é «Bom Tempo» – há muito tempo que não se via bom tempo ou há muito tempo que não se via tanta boa banda nacional a cantar em português e a fazê-lo com excelência -, e a canção da mulher moderna que é «D. Ligeirinha».

“Perdemos o jeito para tocar para gente tão sóbria”, desabafa Jorge Cruz, numa clara alusão às Queimas das Fitas. Apetece dizer: Entre uma Queima das Fitas e um bailarico de Verão no Portugal profundo, venha o Diabo e escolha. Vale aos Diabo na Cruz o facto de não se terem agarrado ao passado, algo que lhes confere a habilidade para tocar em qualquer sala de espectáculo e, principalmente, tocar para um público jovem que só agora, passados vários anos, descobre a tradição e, mais surpreendente ainda, estima-a. Porque os Diabo na Cruz podiam ser os Bloc Party cá do burgo. Ou melhor: os Diabo na Cruz poderiam ser os nossos Franz Ferdinand. Não são. São uma outra coisa, são a mais estimulante proposta no que diz respeito a “Roque Popular Português” surgida nos últimos muitos anos. Concerto curto, mas soberbo.

Difícil a tarefa dos Linda Martini - suceder ao concerto frenético dos autores de «Corridinho de Verão». Mas, enquanto a banda de Jorge Cruz e companhia apela a um imediatismo irresistível, os Linda Martini aspiram a proporcionar uma experiência bem mais sensorial com o seu público. Daí que a reacção seja menos eufórica ou efusiva, mas mais emotiva.

Ao contrário de “Olhos do Mongol”, “Casa Ocupada”, o mais recente disco da banda lisboeta, vai directo ao assunto. As canções são mais curtas, mais cantadas e menos dadas a divagações instrumentais. Liricamente, o segundo disco, continua a mostrar uns Linda Martini certeiros e perspicazes. Em «Nós os Outros», por exemplo, é, na sua ambiguidade, quase pornográfica: “Espero-te chegar / se me vier / Espero-te chegar…”. E, contra todas as expectativas, quão bem soa isto?

Todo este parágrafo anterior, porque os Linda Martini dedicaram os primeiros 15 a 20 minutos da actuação às canções do álbum de 2010, o mais recente. Depois vieram os (já) clássicos, «Dá-me a Tua Melhor Faca», «Amor Combate» ou «Quarto 210». Nestes temas, os Linda Martini aproximam-se mais do pós-rock e do rock progressivo.

“A que se segue não é uma tradução, é mesmo português, chama-se «Juventude Sónica»” - Isto são os Linda Martini a introduzirem uma canção, isto não é mais que os Linda Martini a rechaçar os rótulos colocados pela imprensa nacional e, em último caso, são os Linda Martini a atirarem a toalha ao chão e a concederem um: “Tomem lá a bicicleta”. Fica a dúvida: Honestidade ou pura provocação?

“Não temos muito jeito para encores. Estas duas eram para ser encore, vamos fingir que saímos e voltámos estilo Ninja”. Mais duas canções: «Lição de Voo Nº1», do primeiro disco, e «100 Metros Sereia», de “Casa Ocupada”. Nesta última, Hélio Morais convida a uma invasão pacífica de palco. No início há mosh e até paira uma ideia de descontrolo, mas, pouco depois, os miúdos parecem cordeirinhos, todos alinhados e a cantar repetidamente “Foder é perto de te amar, se eu não ficar perto”. E há lá coisa mais tocante?

Artigo originalmente publicado em www.ruadebaixo.com