quinta-feira, 30 de julho de 2009

[Música] - Grizzly Bear - Veckatimest

Foi assim em 2008 e volta a sê-lo em 2009. Brooklyn possui o melhor balanço quantidade/qualidade de bandas por metro quadrado disponível nos dias que correm. Já conhecíamos os Grizzly Bear, Yellow House foi muito bem acolhido pela crítica. Mas faltava qualquer coisa. Faltava algo como Veckatimest, o perfeito manifesto tendo em vista a perfeição. Tudo no lugar certo, portanto.

Ao terceiro disco, a banda de Chris Taylor - o multi-instrumentalista que também é produtor do disco e que cujas mãos passaram por outro dos grandes momentos do ano, Bitte Orca dos Dirty Projectors - conjuga a folk e pop em 52 minutos da mais colorida e celestial música que vamos ouvir este ano - isto, claro, caso os Arcade Fire não surjam de surpresa, o que seriam, obviamente, boas noticias. Não admira, pois, que algumas canções tenham sido gravadas numa igreja nova-iorquina – até somos capazes de apontá-las uma a uma.

É quase impossível descrever todos os sons ouvidos em cada canção do disco, mas podemos tentar com as primeiras cinco. "Southern Point" tem violinos e guitarras acústicas e a bizarria que é o som de duas facas que se parecem afiar-se. "Two Weeks" é uma belíssima canção com coros celestiais, onírica – e cantada por Victoria Legrand dos Beach House. "All We Ask" começa negra, mas logo desponta para uma canção bem alegre e com alguns pontos de contacto com o álbum de estreia dos Fleet Foxes. "Fine For Now" tem guitarras magistrais, coros angelicais e uma bateria furiosa e "Ready, Able" conta com guitarras hipnotizastes.

Nos últimos tempos temo-nos deixado embalar por sons mais calmos, acústicos, rurais. Primeiro foram os Fleet Foxes, depois a emancipação dos já mencionados Dirty Projectors e agora os Grizzly Bear. Estes dois últimos estarão intimamente ligados ao que de melhor se vem fazendo em 2009.

8/10


quarta-feira, 29 de julho de 2009

[Entrevista] - Blood Red Shoes: “Usamos a banda como um veículo de transmissão de ideias”

São uma das principais atracções do Festival Paredes de Coura e uma das novas promessas do rock mais duro. Sobem ao palco principal do evento no dia 31 de Julho, o dia de Nine Inch Nails, e prometem espalhar o caos.

Ambos tinham projectos antes dos Blood Red Shoes. Como se conheceram?

Conhecemo-nos através das nossas antigas bandas. Ambos gostávamos das bandas de cada um e fomos vê-las. Lembro-me de obter o e-mail da Laura-Mary num espectáculo e de falarmos sobre as bandas que gostávamos e do estilo de vida que gostariamos de levar - que seria entrar em bandas de rock. A minha banda acabou e a Laura sugeriu que tentássemos fazer alguma música juntos. Acabou por ser uma boa experiência, apesar de sermos pessoas completamente diferentes.

Pergunta óbvia: como surgiu o nome Blood Red Shoes?

Se realmente acham isso interessante, vejam no Wikipedia. Não faço ideia de como os Nirvana arranjaram o nome nem me interessa. Acho que a maioria das pessoas também pensa o mesmo de nós.

Na imprensa têm vos ligado a duos que apareceram na ultima década como os Raveonettes, White Stripes ou mesmo os Ting Tings. Detectam algum tipo de ligação entre essa música e a vossa?

O tipo de imprensa que escreve sobre isso estão a ouvir com os olhos e não com os ouvidos. Não temos qualquer ligação com essas bandas. Algumas pessoas são tão limitadas de pensamento que mal vêm um rapaz e uma rapariga pensam logo que somos iguais a todos os outros. Se alguém ouvisse dez segundos da nossa música com os olhos fechados, nunca nos comparariam com essas bandas.

Dizem que bandas como Pixies, Sonic Youth, Nirvana e Queens of the Stone Age são as vossas reefrências. São os anos 80/90 a vossa referência?

Sem dúvida que os anos 90 são uma parte da nossa música. Sou um fã de música, como grande parte das pessoas em bandas. Escavamos constantemente de modo a descobrir novas coisas para ouvir, seja de agora ou dos anos 50. Mas, no geral, ambos adoramos música dos anos 90 e foi o estilo punk/rock que despertou a nossa atenção. Também somos atraidos por coisas como Stooges ou punk dos anos 70, ou bandas recentes como q and not u.


Novo álbum


È verdade que se deixaram influenciar pelo Justin Timberlake? Será o seu lado mais sexy?

Toda a música tem sexo de uma forma ou de outra. O Justin Timberlake é sexy, mas também Stooges e Queens of the Stone Age o são!

Estiveram presentes em campanhas anti-fascismo e actuaram em festivais feministas. Utilizam a música como forma de espalhar ideias?

A música pode significar muita coisa para muitas pessoas. É algo popular e há muitas mais pessoas a ouvir música do que a ler livros sobre politica ou a irem a encontros anti- -fascismo. Portanto, penso que é um bom meio para divulgar este tipo de coisas. Nas nossas músicas não abordamos esses temas de forma clara, talvez uma vez por outra. De uma forma geral, acho que usamos a banda como um veiculo de transmissão de ideias mas não as nossas músicas.

Comandam o vosso próprio negócio. Estará a indústria musical a morrer?

Claro que não. É totalmente mentira, coisas perpetuadas por pessoas de fato e gravata qe têm medo de perder os seus empregos devido à má gestão que têm aplicado nos últimos 50 anos. A música existe desde os primórdios do tempo, nunca desaparecerá, tal como todas as outras artes, faz parte da natureza humana. Vão existir sempre músicos e pessoas prontas a ouvir música. Lá porque o ramo das editoras não possa interferir no processo, não quer dizer que alguma coisa esteja a morrer, quer dizer que as coisas estão a evoluir, e, quanto a mim, para melhor. Vivemos num mundo capitalista, onde os músicos têm de ganhar dinheiro de modo a continuar a produzir música, especialmente para quem se dedica exclusivamente a este negócio. Há muitas formas de fazer isto. Os músicos e os fãs são aqueles que poderão ganhar mais quando as editoras chegrarem ao fim…Acreditem!

Estão a pensar num novo álbum?

Sim. Estou a responder a esta entrevista a partir do estúdio em Liverpool onde estamos a gravar o novo álbum. Sairá em Janeiro de 2010, mas haverão singles e videos entretanto. Estou desejoso. É um passo em frente em relação ao primeiro álbum, definitivamente mais pesado e obscuro a nível de som e um maior desenvolvimento nas músicas. A qualidade das músicas é melhor que nunca, temos tido muitas ideias. Quero que este álbum rebente com a cabeça de todos, e mate todas as coisas de guitarras indie fracas.

Tocaram o ano passado em Lisboa. Que expectativas têm para este concerto em Portugal?

Estivemos ai apenas uma vez, mas todos se mostraram bem animados, logo esperamos o mesmo desta vez. Queremos levar algumas pessoas para cima do palco e enervar os seguranças um bocado. Causar o caos!

domingo, 26 de julho de 2009

[Música] - Sonic Youth - The Eternal

Numa altura em que Nova-Iorque fervilha criatividade, os Sonic Youth voltam aos discos para mostrar à «miudagem» como é que se fazia música há quase 30 anos atrás.

O décimo sexto disco da banda de Kim Gordon, Thurston Moore, Lee Renaldo, Steve Shelley e a novidade que é Mark Iboid – ex-baixista dos Pavement – é o primeiro fora da editora Geffen. Mudança à vista? Nem por isso. The Eternal continua tão ruidoso quanto os álbuns mais ruidosos dos Sonic Youth e – já agora – tão bom quanto os melhores álbuns dos Sonic Youth.

Noise-rock é como lhe gostam de chamar. Ruidoso, pois bem. Estes cinco produzem sons como quem quer rebentar com as cordas de uma guitarra ou deixar os amplificadores a largar fumo. As canções raramente passam dos dois/três minutos, mas quando passam vão dos cinco aos dez. Estes são os Sonic Youth, senhores desregrados e pouco convencionais.

"Sacred Trickster", logo a abrir, surpreende pela urgência punk que transpira – é um dos singles do ano. "Anti-Orgasm" soará a White Stripes daqui por uma década. "Antenna" chega a parecer, em certos momentos, uma canção dos Arcade Fire e "What We Know" são os Blur dos discos mais experimentais. É claro que tudo isto é muito pouco linear. O toque – mais uma vez – ruidoso e experimental dos Sonic Youth garante-lhes uma identidade muito própria.

Quase 30 anos depois, continuam a soar experimentais mas sem forçar nada. Louvável.

8/10



quinta-feira, 23 de julho de 2009

[Obituário] - Heinz Edelmann (1934-2009)

Morreu Heinz Edelmann, director artístico de Yellow Submarine, o filme de animação musicado pelos Beatles, em 1968. O designer alemão destacou-se também pelo trabalho gráfico da edição alemã do Senhor dos Aneis e por ter desenhado Curro, a mascote oficial da Expo '92, em Sevilha, Espanha.

Um excerto de Yellow Submarine:

terça-feira, 21 de julho de 2009

[Reportagem] Festival da Lusofonia, Estádio Municipal de Oeiras - dia 19 de Julho


A última noite do Festival da Lusofonia, em Oeiras, foi, arriscamos, a noite com a média de idades mais baixa de todo o evento. Não surpreende. Oquestrada, Da Weasel e Buraka Som Sistema compunham um cartaz jovem.

Os primeiros a entrar em palco foram os Oquestrada, que haviam estado dois dias antes em Sines para o Festival de Músicas do Mundo. A banda explora terrenos como o fado (guitarra portuguesa), folclore e até, ainda que raramente, algum jazz. Os seis elementos que compõe o projecto divertem-se e divertem os presentes. Cada um tem o seu momento exibicionista – com ou sem instrumentos – o que serve para entreter um recinto que já se começa a compor para o concerto de Da Weasel. No final, visivelmente satisfeitos, tocam «mais uma», que afinal são duas e fecham a loja com a sensação de dever cumprido.

Os Da Weasel estão melhores que nunca. A banda de Almada surpreende com um início «rockeiro», composto por "GTA" e uma surpresa, "Selectah", que andava fora do espectáculo da Doninha há já algum tempo. Há que abrandar a toada e servir o conjunto infernal de êxitos que são temas como "Força", "Dialectos de Ternura", “Adivinha Quem Voltou”, "Re-Tratamento", e "Nunca me deixes", estas últimas duas no pior que os Da Weasel já fizeram. Desta vez não houve o habitual mortal de Virgul, mas houve as habituais vénias de Pacman a Jay Jay, um mini-set de DJ Glue dedicado a Michael Jackson e uma passagem por "Killing in The Name" dos Rage Against The Machine. Para o fim, o regresso do rock puro e duro com "Bomboca (Morde a Bala)" e "Niggas" e um regresso, já em encore, com "God Bless Johnny" e o já clássico "Tás na Boa". Pelo meio uma paródica menção ao final de "The Beautiful People" de Marilyn Manson por Virgul. Concerto da noite.

Seguia-se a banda mais internacional que Portugal alguma vez viu nascer. O público não descola da frente do palco. Os Buraka Som Sistema (BSS) têm a noite ganha à partida. A disposição dos músicos em palco não é a nada convencional. Do lado direito a bateria, do lado esquerdo a percussão, as duas em claro confronto num frente-a-frente moderado pelo DJ de serviço, DJ Riot, mais atrás, mas ao centro. Os dois MC's de serviço partilham o resto do palco com as duas bailarinas/vocalistas que fazem as vozes femininas e estão encarregues de animar as hostes. Por esta altura os êxitos já são muitos. "Yah", "Aqui Para Vocês", "Kalemba" e "Sound of Kuduro" são pontos altos de um concerto explosivo. O som de "Killing in the Name Of" chega a fazer-se ouvir de novo, mas desta vez não há Michael Jackson. Há The Prodigy com "Poison" e AC/DC com "Thunderstruck". A chave do sucesso dos BSS não passa apenas pelo palco, mas sabe-se que essa é uma das faces importantes da enorme projecção que o grupo da Amadora goza neste momento. Vieram de Berlim e vão para o Japão. No mínimo, impressionante.

Nota: A foto não representa o concerto em questão

domingo, 19 de julho de 2009

[Reportagem] - Esta - 17 de Julho - Fábrica da Pólvora, Oeiras

Inserido na programação que festeja os 250 anos do concelho de Oeiras, o concerto dos israelitas Esta foi um brilhante manifesto cultural. Lia-se no guia dos concertos realizados e a realizar, nos próximos dias, na Fábrica da Pólvora, que Bill Clinton havia apelidado estes músicos de "maravilhosos". Clinton, sabe-se, não é nenhuma referência no que à cultura musical diz respeito, mas a menção tinha o óbvio objectivo de abrir o «apetite». Abriu.

À hora marcada, os cinco músicos entram em palco. Colocam-se num frente-a-frente com o público com um parafernália de instrumentos – que incluíam gaita de foles, pandeireta e guitarra acústica - bastante variada. O início exclusivamente instrumental dá lugar a um conjunto de belas canções interpretadas com mestria pelos cinco músicos que são pau para toda a obra. Dois são responsáveis pelas cordas – guitarra acústica, cavaquinho, guitarra eléctrica, baixo –, a vocalista para além de dar a voz também toca castanholas – o que dá uma sonoridade mais latina ao concerto –, há um responsável pela secção rítmica e um multifunçoes que se ocupa da gaita de foles, trompete, flautas de todos os feitios e saxofone.

A actuação incluiu demonstrações de virtuosismo no saxofone e na bateria – um interminável solo –, e um encore bastante celebrado que acabou com todos os membros da banda junto da assistência. Antes, a doce vocalista da banda lia sentada – e descalça, como mandam as regras – uma profecia quase tão aplaudida como as canções.

No final aceitamo-lo. Bill Clinton percebe do assunto. Os Esta são «maravilhosos».

sábado, 18 de julho de 2009

[Vídeo] Franz Ferdinand - Can't Stop Feeling

Palavras para quê? Vídeo do ano?

quinta-feira, 16 de julho de 2009

[Música] - Placebo - Battle For the Sun

Vamos às novidades. Em 2006, após a edição de um bastante agradável Meds, os Placebo perderam o baterista Steve Hewitt. Steve Forrest, um «miúdo» de 22 anos substitui-o – boa noticia: não é por aqui que passam os grandes problemas de Battle For the Sun. Esta é a grande novidade. A pequena novidade está na escolha do produtor, David Bottrill (Tool, Staind e Muse). Acabaram-se as novidades.

O sexto disco dos Placebo é uma monotonia pegada. Há rock épico ("Bright Lights"), palminhas irritantes ("Kitty Litter", logo a abrir) e coros à Bon Jovi dos tempos hair metal (o single "For What It's Worth”). O apelo electrónico é constante em quase todas as canções - uma mais épica que a anterior. Battle For the Sun trás ainda o pior do glam-rock que caracterizou os Placebo do início de carreira. A sensação de deja-vu é constante – já ouvimos tudo isto antes.

Valha-lhes o facto de não existir por aqui nenhuma canção escandalosamente má. Ainda que "Julien" mais pareça o início de um disco dos The Bravery, alguns fãs até poderão gostar desta sonoridade que, relativamente aos últimos discos, está subtilmente mais endurecida mas...zzzZZZzzz...

"I Need a Change of Skin" dizem os Placebo logo ao primeiro tema de Battle of the Sun, "Kitty Litter". É verdade, os Placebo precisam mesmo de mudar. Não de pele, mas de som. Como diria Marcelo Rebelo de Sousa: «Assim não!»

4/10