quarta-feira, 28 de outubro de 2009

The Pains Of Being Pure At Heart - Higher Than Stars EP


Higher Than Stars é o típico ep de uma banda que não quer ser desaparecer tão rápido como apareceu. A explosão dos The Pains Of Being Pure At Heart (TPOBPAH) deu-se ainda este ano, no primeiro semestre, com um óptimo álbum homónimo. The Pains Of Being Pure At Heart, o disco, trazia ecos dos anos 80, os anos 80 dos My Bloody Valentine e do shoegaze, passe a redundância. Canções como "Stay Alive", "The Tenure Itch" e "Everything With You" são canções maiores que deveriam figurar em qualquer lista de balanço anual.

Não sabemos se será pura ingenuidade ou se uma tendência clara para se auto-ridicularizarem, mas este ep volta a ter um dos piores títulos do ano. Sim, também temos vergonha de dizer aos amigos que encontrámos uma banda que é óptima, mas que se chama The Pains Of Being Pure At Heart. Vale-lhes o conteúdo. E aí a matéria-prima passa de um escalão muito sub-16 para um bom gosto tremendo de quem passou a infância a ouvir os discos dos Dinosaur Jr., Pixies e Smiths.

"Higher Than Stars", canção de todas as cores do arco-íris, aponta novos rumos. Pena que não seja para continuar. "103" remete-nos imediatamente para uma "Come Saturday" e "Twins" para uma "Young Adult Fiction". No fim há uma bela remistura de "Higher Than Stars", cortesia de St. Etienne e Lord Spank.

Passado, presente e futuro convergem neste segundo capítulo discográfico dos TPOBPAH. Para onde ir? Parecem indecisos, mas pelo menos não serão esquecidos. Para já.

6/10

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

[Música] - Pearl Jam - Backspacer / Alice In Chain - Black Gives Way To Blue

Duas das vacas sagradas do grunge regressam aos discos. Os Pearl Jam regressam três anos depois de um morno disco homónimo. Os Alice In Chains (AiC) não gravavam há década e meia. Esta semana Chris Cornell e Jerry Catrell – guitarrista dos AiC – juntaram-se aos Pearl Jam, num espectáculo da banda de Eddie Vedder e companhia. Cantaram-se, desde logo, louvores ao grunge. Será esta a sua ressurreição? Ou apenas uma feliz coincidência?

Backspacer é já o nono disco dos Pearl Jam. Quase 20 anos depois da sua formação, os grandes sobreviventes do movimento que celebrizou Seattle parecem "apenas" interessados em editar boas canções rock e em divertirem-se em palco. Não é revolucionário, mas parece suficiente. A cada disco da banda de Ten lá aparece mais uma ou duas canções que nos fazem ansiar por um espectáculo ao vivo em terras lusas. Em Backspacer é "Gonna See My Friend", canção que abre o disco, que nos entusiasma. É pesada, raivosa, lascíva, uma excelente canção.

As canções são curtas e só por duas vezes ultrapassam o limite dos quatro minutos. Backspacer segue a linha de Pearl Jam, mas tem aquilo que faltava ao seu antecessor, bons riff's, boas melodias...boas canções. Atente-se, por exemplo, a "The Fixer" e "Just Breathe". A primeira é um óbvio primeiro single e tem o selo das melhores canções de Verão. A segunda é uma ode à vida, a vida que os Pearl Jam aprenderam a dar valor.

Com Brendan O'Brien na produção – não gravava com a banda desde Yield –, já não há espaço para os grandes malabarismos técnicos dos primeiros tempos. É a tal história das canções descomprometidas, mais como pretexto para continuar a subir a um palco que para deixar marca neste moribundo mundo discográfico.

Este é um disco de quem já alcançou tudo aquilo que há para alcançar – e isso implica a imortalidade da marca Pearl Jam. Um disco de quem já não tem nada a provar. É um bom disco, ao contrário da maior parte dos discos de gente que não tem mais nada a provar.

Com os Alice In Chains o assunto é bem mais complicado. Foram 14 anos de hiato discográfico, sete sem Layne Staley e uma bem sucedida digressão que apresentou William DuVall, o talentoso vocalista dos Come With The Fall. Apesar das colagens ao fenómeno grunge, desde os anos 90 que os Alice In Chains se distinguiam das demais bandas de Seattle. A sonoridade é mais dura, mais pesada, mais lenta. No fundo, os AiC praticavam um hard-rock em que tanto a parte instrumental como a voz se parecem arrastar.

Dirt, o clássico que merecia mais menções que aquelas a que tem direito, imortalizou a banda e, acima de tudo, Layne Staley, o amargurado vocalista que se viria a suicidar no mesmo dia que Kurt Cobain, oito anos depois. Não era, pois, de todo expectável este regresso aos discos.

"Hope, a New Beginning", ouve-se logo na primeira canção, "All Secrets Known". As palavras de Jerry Cantrell dispensam qualquer tipo de tradução. É como que um atirar à cara dos mais cépticos a ideia de "estamos de volta e não queremos saber se gostam ou não".

A voz de DuVall, ainda que similar, não é uma cópia de Staley. Está entre o malogrado vocalista e Chris Cornell. "Your Decision" mais parece uma balada dos Seether, o que não é necessariamente mau. A banda Shaun Morgan é muitas vezes subvalorizada. Em "Last Of My Kind" arrepiamo-nos ao ouvir da boca de DuVall as palavras "So Young, So Brazen, So Unholy” e na faixa título, a que fecha o disco, é com surpresa que reparamos que é Elton John que está no piano.

O problema de Black Give Way To Blue é que parece grande parte das canções parecem arrastar-se até ao final. São demasiado longas e numerosas. É um regresso que não compromete sem impressionar.

Backspacer - 7/10
Black Give Way To Blue - 5/10


[Reportagem] - Rock Rendez Worten (Alternativo) - 8 de Outubro - Galeria Zé Dos Bois


A quarta noite da segunda edição do Rock Rendez Worten revelou uns seguros Soapbox e uma surpresa, os PUNTZKAPUNTZ.

Os Soapbox são cada vez mais uma certeza no panorama musical português. Depois da vitória no Super Bock Super Rock Preload, o quinteto continua a fazer pela vida e volta a participar num concurso de grande visibilidade. A banda lisboeta usa e abusa dos pedais de efeitos e tem no seu vocalista um poço de carisma onde pode ir beber alguns votos. A sonoridade anda à volta de um electro-rock bem suado. O resultado é bem melhor que o de um Slimmy, por exemplo.

A surpresa da noite dá pelo nome de PUNTZKAPUNTZ. São cinco, têm uma boa disposição contagiante e parecem abarcar com eles o conhecido slogan "peace & love". Descontraídos, mostraram na Zé dos Bois um excelente cocktail que inclui ska, punk, reggae e soul. A vocalista quando não canta tem uma postura que parece forçada, mas quando canta é seguríssima e – aí sim – tem personalidade. Uma surpresa que promete uma luta bem reunida com os Soapbox.

Os Lua Cadillac - os últimos a terem oportunidade de entrar em palco - à imagem dos Soapbox, também apreciam pedais de efeitos. O vocalista sobe ao palco numa postura que está muito em voga do tipo "quanto mais ridícula for a imagem melhor", o que implica óculos e gorro a condizer. São a banda mais dura da noite. Não são maus, mas é difícil distingui-los de muitas outras bandas. São os outsiders da categoria.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

[Música] - Muse - The Resistance


Algo de diferente se nota no universo pop/rock quando no espaço de 11 meses são editados três discos com elevado grau de megalomania. O primeiro é óbvio, Chinese Democracy, disco fantasma que afinal não o é. O segundo é 21st Century Breakdown dos Greenday, o difícil sucessor do super épico "American Idiot". E agora os Muse com este Resistance. Neste campo, esqueçam o segundo disco dos Grizzly Bear e o terceiro dos Kasabian. Não entram para estas contas.

Meses antes da edição do álbum, já o burburinho era enorme. Os primeiros vídeos dão conta de algumas experiências bizarras que – sabemos agora – nunca estiveram relacionadas com o produto final. Depois veio "United States of Eurasia", canção que não tem apenas a marca de água dos Queen. Já há vídeos que fazem uma curiosa montagem entre a canção dos Muse e "We Are The Champions", de Freddie Mercury e companhia. Por fim, é editado o primeiro single, "Uprising", provavelmente, o pior single de sempre dos Muse. A canção começa com teclados sombrios arrastando-se até um refrão extremamente catchy, ao qual sucede um riff banal ali colocado às três pancadas. Mas que belos mediadores de expectativas se revelavam estes Muse.

Sejamos pragmáticos, o quinto disco dos britânicos está ao nível das mais ambiciosas óperas rock. Mas é muito mais que isso. É uma revisão da matéria dada ("Resistance"), é épico ("Unnatural Selection") e tem os Queen como porta-estandarte para atingir a imortalidade (a já referida "United States of Eurasia"). Falta o derradeiro acesso de megalomania, uma sinfonia composta por três partes que fecha o disco de forma completamente inesperada.

The Resistance é o disco mais ambicioso do ano. A ambição é tão desmedida que a muito Timbalandiana "Undisclosed Desires" chega a passar ao lado de qualquer tipo de surpresa. No fim, os Muse podem cambalear, mas não caiem.

6/10



domingo, 4 de outubro de 2009

[Música] - Monsters of Folk - Monsters of Folk


Olhamos para a capa de Monsters of Folk e lembramo-nos que há muito, muito tempo, um conjunto de músicos sob a denominação de Crosby, Stills, Nash & Young fabricou alguns dos melhores objectos musicais da década de 70. O conceito aqui é mais ou menos o mesmo.

Partimos de uma outra questão para expor o problema: O que acontece quando se juntam M. Ward, Conor Oberst e Mike Mogis – ambos dos Brigth Eyes – e Jim James – estrela mor dos My Morning Jacket? Provavelmente o comum dos mortais pensaria num milagre como produto final, certo? Já lá vamos.

A questão não é assim tão linear. Acima de tudo, há que ter em conta as expectativas. E como eram altas as expectativas…! "Dear God", a abrir o disco, começa com uma surpreendente batida «trip-hop» e melodia trauteada em falsete. É uma grande canção. "Say Please" é uma canção alegre, hino de Verão com tudo no sitio – incluindo maravilhosos solos de guitarra. "Temazcal" tem lá dentro os Spiritualized do último Songs in A&E (elogio) e "His Master's Voice" tem falsetes à Fleet Foxes, sensação «folk» do ano passado. "The Right Place" é monumental, a canção do disco e uma das que marcará de 2009. Há ainda canções muito interessantes como "Man Named Truth", "Goodway", "Losin Yo Head" e "Sandman, The Brakeman & Me" e "His Master's Voice", mas nada que nos faça colocar este disco como um dos discos maiores da década. E era nessa categoria que Monsters of Folk deveria estar.

O talento dos quatro músicos é inquestionável. Não existe sobreposição de egos e isso é de louvar. Provavelmente será tudo uma questão de expectativas. No fundo, o que causa mais confusão é mesmo o nome do projecto.

7/10



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

[Reportagem] - Green Day, 28 de Setembro, Pavilhão Atlântico


Passam-se agora cinco anos desde a edição de American Idiot - o mui épico disco que colocou os Greenday mais perto do céu e mais longe do «punk-rock» açucarado que caracterizara os discos da banda até aí - e oito ou dez desde o último e único concerto da banda em Portugal. 21st Century Breakdown, último disco da banda de Billy Armstrong, tem meses. Foi esse o grande pretexto para o concerto no Atlântico.

O oitavo disco dos Greenday, embora o conceito seja o mesmo, anda longe dos melhores momentos de American Idiot mas ganha uma dimensão enorme ao vivo. As boas canções do disco são, aliás, despachadas logo no início: o tema título, "Know Your Enemy" e "Before The Lobotomy". No outro lado, "Song of The Century" – o nome é uma heresia, mas a canção funciona mais como uma introdução que como documento musical, pelo que tem desculpa –, ”East Jesus Nowhere", “Static Age", "American Eulogy”, “21Guns", canções menores que desequilibram o disco.

Se o novo disco divide os fãs - já American Idiot o tinha feito anteriormente e em proporções bem mais significativas -, já clássicos como "Welcome To Paradise", "She", "Jaded", "Basket Case", "Minority" e - porque não? - "Jesus Of Suburbia" são recebidos como verdadeiros hinos que são.

Depois há Billy Armstrong, puro entertainner que puxa pelo público – de uma forma literal, mesmo para cima do palco –, experimenta os adereços mais ridículos - muitos estão disponíveis numa rua do Bairro Alto (à noite) bem perto de si -, recruta guitarristas - um miúdo de 17 anos tocou meia "Jesus Of Suburbia" - e vocalistas - um outro miúdo assassinou "Brain Stew".

Goste-se ou não, os Greenday são hoje uma das grandes máquinas rock, tanto ao vivo como em estúdio – há quanto tempo não falham um single, independentemente da qualidade dos mesmos? Ainda poderão ser tratados como um fenómeno «punk»? Pouco, muito pouco. Tornaram-se demasiado grandes para se esforçarem em cheirar mal e em usarem roupas demasiado gastas.


Nota: A foto não corresponde ao concerto em questão