sábado, 27 de agosto de 2011

[Crítica] Arctic Monkeys - Suck it and See


Esqueçam o acne desencadeado por hormonas sexuais pouco controladas, os riffs cantaroláveis, esqueçam até as capas capazes de ficar para a história e os títulos de disco bizarros - bem, aqui a coisa não mudou assim tanto, ao invés de um título sem fim como Whatever People Say That i am, That's What I'm Not, temos um provocante Suck it and See. Os Arctic Monkeys de hoje são não são os Arctic Monkeys de há cinco/seis anos. Constactação óbvia: há quem aprecie a mudança e há o outro lado da moeda, os que a renegam.

Muitos parecem já não se lembrar - os Arctic Monkeys mudaram, em 2006, a forma como viamos a música até essa altura. A banda de Alex Turner e companhia foi o primeiro bebé Myspace de sempre. Na altura, o Myspace era a maior rede social do mundo a seguir ao Hi5 - hoje estão as duas ligadas às máquinas. O mundo mudou, os Arctic Monkeys também.

Uma coisa é certa, os Monkeys não regressarão tão cedo à sonoridade de Whatever.... Talvez num eventual regresso às raízes, esse hábito tão comum (passe a redundância) no rock - caso esse dia chegue, arriscamos, os Arctic Monkeys já terão caído na mesma irrelevância artistica de uns Foo Fighters. As premissas de Humbug, claro, mantém-se para Suck it and See. A sonoridade (e a imagem) da banda de Sheffield está mais negra e mais condizente com os ares britânicos - convenhamos que em Inglaterra, mais do que noutro qualquer local do planeta, esta imagem acenta melhor que uma luva. A imagem dos Arctic Monkeys de 2011 é facilmente confundivel com a dos Black Rebel Motorcycle Club de 2001. Melhor: A imagem dos Arctic Monkeys de 2011 é facilmente confundível com a dos Jesus & Mary Chain de 1991 - chega a ser assustadoramente parecida no vídeo (e música) de "The Hellcat Spangled Shalalala". Também há reminiscências dos Queens of the Stone Age em "Brick by Brick" e "Don't Sit Down Cause i Moved Your Chair" e algumas influências country nas canções mais intropectivas. "Suck it and See" é entusiasmante até "All My Own Stants" - a partir daí, é como se as luzes baixassem e parece que, ao invés de uma banda, temos Turner a solo. O que é uma pena.

Não nos deixemos enganar, Whatever... é, provavelmente, o mais importante disco de rock desde Nevermind dos Nirvana - punks bem comportados, que raio? Um dos grandes problemas da música popular contemporânea é o de viver um passado que não volta em vez de um presente que se apresenta igualmente entusiasmante, embora diferente. Os Monkeys já não estão numa de ser os Beatles do século XXI. Suck it and See é isso, é, como disseram os próprios Monkeys ao Guardian, "mais preocupados em ser melhor, menos ralada em agradar os fãs da velha guarda".

7/10



domingo, 31 de julho de 2011

[Reportagem] Editora Chifre - Festa de Apresentação - 22 de Julho - Musicbox


É seguro referir que é único e incrível aquilo que está acontecer à música portuguesa e, acima de tudo, à música portuguesa cantada em português, nestes tempos que são os de hoje. Depois do abanão protagonizado pela FlorCaveira de B Fachada, João Coração, Tiago Guillul e Samuel Úria, parece que perdemos definitivamente a vergonha. E toda a gente quer fazer um bocadinho para participar e celebrar isto que é a música portuguesa cantada em português. Para todos os efeitos haverá sempre um antes e um depois da FlorCaveira – e isso, por mais que se odeie B Fachada ou outro qualquer cantautor da editora da capital, é inegável.

Todo um primeiro parágrafo para introduzir a Chifre que, aponte-se para mais tarde recordar, apresentou-se pela primeira vez, enquanto editora, no dia 22 de Julho, no Musicbox, com os artistas que preenchem, para já, o seu catálogo: Diego Armés, David Pires, Capitão Fausto e A Armada – tocaram nesta ordem, uma “noite em crescendo” como referiu, a certa altura um dos elementos dos Capitão Fausto. Em crescendo, sim, mas não nos referimos à qualidade, e sim a um progressivo endurecimento do som.

Primeiro Diego Armés, ele que é vocalista dos Feromona, mas que aqui se apresenta a solo, apenas na companhia de uma guitarra eléctrica. “Estou um pouco nervoso. Costumo tocar com outras pessoas e a maior parte de vocês não me está a ligar nenhuma”, desabafa com razão. Mas lá em baixo, no meio do público, estão alguns atentos, afectos à recém-nascida Chifre que não deixam Diego cair. De aspecto frágil e de baixa estatura, Diego chega a lembrar Cão da Morte, ou seja, Luís Gravito, na forma pouco fluente e estruturada como lidam com o público. Não é necessariamente mau – confere-lhes alguma piada. A música de Diego Armés faz lembrar os Feromona, mas sem secção rítmica – talvez porque associamos tão facilmente a voz do músico à sua banda.

Já David Pires faz-se acompanhar de uma banda – um guitarrista, um teclista (o dos Capitão Fausto), um baixista e um baterista. Ele, David Pires, baterista d’Os Pontos Negros e da Armada ocupa-se da guitarra acústica. Sentimos algumas harmonias em ascensão que aspiram aos céus e que nos lembram os Fleet Foxes. É folk ambiciosa e atenta ao pormenor, é rock celeste, mas não agreste. David Pires mostrou qualquer coisa, mas não mostrou tudo o que a sua conta no Myspace mostra que pode fazer. Ouvimo-lo na Internet e sentimo-nos inspirados, ouvimo-lo no Musicbox, na Festa de Apresentação da Chifre, e não nos sentimos mais que confortáveis. O melhor ainda está para vir, portanto.

Os Capitão Fausto cometeram a proeza de, finalmente, chamar a atenção de um público que parecia mais interessado em teorizar a história do que em fazê-la. Os Capitão Fausto são aquilo que os Iconoclasts queriam ser. São miúdos entusiasmados por estar em cima de um palco, mas que não querem imitar uma infinidade de outras bandas que estão na berra - ou, pelo menos, não são tão descarados. Os Capitão Fausto não se afastam dessa infinidade de outras bandas de origem anglo-saxónica que estão na berra, destacam-se porque são bons. Não são absurdamente bons, mas são bons. Há “na na na na na’s”, há “la la la la la’s”, há toda uma aura juvenil/infantil que envolve a banda e nos entusiasma sem que haja uma razão aparente senão a vontade de celebrar qualquer coisa, o momento.

A fechar a noite, uma Armada que conta com Pedro da Rosa (Os Golpes) e David Pires (ele, outra vez) como elementos mais mediáticos. “Nós somos A Armada e fazemos rock n’ roll”, anuncia Pedro da Rosa. O que se segue são riffs que podiam ter saído da guitarra de Angus Young, canções que vão dos Stones aos Clash passando pelo punk nacional e algumas expressões que denunciam esta geração que viveu a década de 90, a do grunge e do nu-metal (riscar este último). A banda refere-se ao público da frente, o do mosh, como sendo a “malta do hardcore”. A certa altura, Pedro da Rosa lança-se num salto suicida para o público num incrível stage diving – a calma que transparece n’Os Golpes ficou, definitivamente, lá fora.

A festa haveria de acabar com alguns elementos do Capitão Fausto em cima do palco, uma foto de família com o símbolo da Chifre, o \m/.

A ideia de estarmos perante uma editora que parte das sobras de outras duas desvanece-se rapidamente. Para já, a Chifre parece ser o elo mais fraco (ou menos forte) de uma trindade composta pela própria, pela FlorCaveira e pela Amor Fúria. Há uma imagem de família que já associávamos às outras duas e privilegia-se também a música cantada em português. Não sabemos o que nos dará o futuro, mas uma coisa já perdemos: a vergonha.

Texto originalmente publicado em www.ruadebaixo.com