domingo, 31 de julho de 2011

[Reportagem] Editora Chifre - Festa de Apresentação - 22 de Julho - Musicbox


É seguro referir que é único e incrível aquilo que está acontecer à música portuguesa e, acima de tudo, à música portuguesa cantada em português, nestes tempos que são os de hoje. Depois do abanão protagonizado pela FlorCaveira de B Fachada, João Coração, Tiago Guillul e Samuel Úria, parece que perdemos definitivamente a vergonha. E toda a gente quer fazer um bocadinho para participar e celebrar isto que é a música portuguesa cantada em português. Para todos os efeitos haverá sempre um antes e um depois da FlorCaveira – e isso, por mais que se odeie B Fachada ou outro qualquer cantautor da editora da capital, é inegável.

Todo um primeiro parágrafo para introduzir a Chifre que, aponte-se para mais tarde recordar, apresentou-se pela primeira vez, enquanto editora, no dia 22 de Julho, no Musicbox, com os artistas que preenchem, para já, o seu catálogo: Diego Armés, David Pires, Capitão Fausto e A Armada – tocaram nesta ordem, uma “noite em crescendo” como referiu, a certa altura um dos elementos dos Capitão Fausto. Em crescendo, sim, mas não nos referimos à qualidade, e sim a um progressivo endurecimento do som.

Primeiro Diego Armés, ele que é vocalista dos Feromona, mas que aqui se apresenta a solo, apenas na companhia de uma guitarra eléctrica. “Estou um pouco nervoso. Costumo tocar com outras pessoas e a maior parte de vocês não me está a ligar nenhuma”, desabafa com razão. Mas lá em baixo, no meio do público, estão alguns atentos, afectos à recém-nascida Chifre que não deixam Diego cair. De aspecto frágil e de baixa estatura, Diego chega a lembrar Cão da Morte, ou seja, Luís Gravito, na forma pouco fluente e estruturada como lidam com o público. Não é necessariamente mau – confere-lhes alguma piada. A música de Diego Armés faz lembrar os Feromona, mas sem secção rítmica – talvez porque associamos tão facilmente a voz do músico à sua banda.

Já David Pires faz-se acompanhar de uma banda – um guitarrista, um teclista (o dos Capitão Fausto), um baixista e um baterista. Ele, David Pires, baterista d’Os Pontos Negros e da Armada ocupa-se da guitarra acústica. Sentimos algumas harmonias em ascensão que aspiram aos céus e que nos lembram os Fleet Foxes. É folk ambiciosa e atenta ao pormenor, é rock celeste, mas não agreste. David Pires mostrou qualquer coisa, mas não mostrou tudo o que a sua conta no Myspace mostra que pode fazer. Ouvimo-lo na Internet e sentimo-nos inspirados, ouvimo-lo no Musicbox, na Festa de Apresentação da Chifre, e não nos sentimos mais que confortáveis. O melhor ainda está para vir, portanto.

Os Capitão Fausto cometeram a proeza de, finalmente, chamar a atenção de um público que parecia mais interessado em teorizar a história do que em fazê-la. Os Capitão Fausto são aquilo que os Iconoclasts queriam ser. São miúdos entusiasmados por estar em cima de um palco, mas que não querem imitar uma infinidade de outras bandas que estão na berra - ou, pelo menos, não são tão descarados. Os Capitão Fausto não se afastam dessa infinidade de outras bandas de origem anglo-saxónica que estão na berra, destacam-se porque são bons. Não são absurdamente bons, mas são bons. Há “na na na na na’s”, há “la la la la la’s”, há toda uma aura juvenil/infantil que envolve a banda e nos entusiasma sem que haja uma razão aparente senão a vontade de celebrar qualquer coisa, o momento.

A fechar a noite, uma Armada que conta com Pedro da Rosa (Os Golpes) e David Pires (ele, outra vez) como elementos mais mediáticos. “Nós somos A Armada e fazemos rock n’ roll”, anuncia Pedro da Rosa. O que se segue são riffs que podiam ter saído da guitarra de Angus Young, canções que vão dos Stones aos Clash passando pelo punk nacional e algumas expressões que denunciam esta geração que viveu a década de 90, a do grunge e do nu-metal (riscar este último). A banda refere-se ao público da frente, o do mosh, como sendo a “malta do hardcore”. A certa altura, Pedro da Rosa lança-se num salto suicida para o público num incrível stage diving – a calma que transparece n’Os Golpes ficou, definitivamente, lá fora.

A festa haveria de acabar com alguns elementos do Capitão Fausto em cima do palco, uma foto de família com o símbolo da Chifre, o \m/.

A ideia de estarmos perante uma editora que parte das sobras de outras duas desvanece-se rapidamente. Para já, a Chifre parece ser o elo mais fraco (ou menos forte) de uma trindade composta pela própria, pela FlorCaveira e pela Amor Fúria. Há uma imagem de família que já associávamos às outras duas e privilegia-se também a música cantada em português. Não sabemos o que nos dará o futuro, mas uma coisa já perdemos: a vergonha.

Texto originalmente publicado em www.ruadebaixo.com

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Alive! 11 - A não perder #6: Iggy & The Stooges

Este pode ser o último concerto de Iggy & The Stooges em Portugal, esta pode ser a derradeira digressão da banda de Raw Power. A morte do guitarrista Ron Asheton alertou-nos para uma inevitável consequência, a morte. Entretanto, aproveitemos enquanto Iggy Pop (64 anos) ainda tem cabelo e um tronco flácido, mas trabalhado. De calças de ganga e traseiro ligeiramente de fora, a velha iguana faz de cada concerto um verdadeiro motim, em que o objectivo é a celebração pela celebração.

O performer é secundado por uma banda, precursora do movimento punk e que influenciou e continua a influenciar uma data de bandas. O concerto/motim faz todo o sentido numa altura em que os gregos saem à rua. "I Wanna Be Your Dog" é perfeito numa altura em que se pedem sacrificios penosos a um povo sacrificado.

E, já referimos, temos Iggy, que em concerto é apenas ele a ser ele próprio, um jovem de quase 65 anos. A coisa deverá acabar, como é habitual, com dezenas de putos em cima de palco - porque um concerto de Iggy e dos seus Stooges é um tormento para qualquer empresa de seguranças.
















































domingo, 3 de julho de 2011

Alive! 11 - A não perder #5: Os Golpes

Não estão muito separadas pelo tempo as actuações de Xutos & Pontapés e Os Golpes. A primeira começa ainda na hora do jantar, a segunda tem início já a noite vai longa. Os veteranos sobem ao palco principal do evento, os "novatos" ocupam o Palco Super Bock. Esta introdução para constatar o seguinte: se tivéssemos escolher entre Xutos & Pontapés e Os Golpes, optaríamos pelos segundos.

E se o futuro, neste caso, supera o passado no que à criatividade diz respeito, não é por isso que Os Golpes negligenciam o que está para trás. Quando lançaram Cruz Vermelha sobre Fundo Branco, o excelente disco de estreia que para além das referências da capa, era uma vénia aos anos 80 portugueses em geral e aos Heróis do Mar, em particular. Se hoje os vemos como um OVNI nas galas de Natal das estações televisivas e rodeados pelo "jet set" nacional, a muito se deve o êxito, esse clássico instantâneo, "Vá Lá Senhora", com a participação de - quem mais? - Rui Pregal da Cunha (ex-Heróis do Mar). Quem diria?








Alive! 11 - A não perder #4: Primal Scream Presents: Screamadelica Live

Há muito tempo a marcar passo no agreste terreno dos lançamentos discográficos, os Primal Scream não têm um grande disco para aí desde... Screamadelica. Não admira, pois, que a banda do carismático Bobby Gillespie repesque o clássico de 1991 e o leve estrada fora, agora nos festivais de verão. A acompanhar, e para que não falte nada, vem um coro gospel. O resto é o reconhecemos em Screamadelica - há soul e há rock e é música para dançar. No fundo, é o equilibrio que na altura lhe permitiu romper fronteiras - a malta do rock de mãos dadas com a malta do acid-house. Tudo a dançar noite fora. Em 1991 e, 20 anos depois, hoje numa tenda que se prevê à pinha.












sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alive! 11 - A não perder #3: Crocodiles

Em 2009, na altura em que o primeiro disco, Summer of Hate, foi editado, Brandon Welchez, o vocalista dos Crocodiles fisicamente assemelhava-se a Dylan, o da fase andrógina, mas sem a androginia. As comparações ficam-se por aí. Os Crocodiles passeiam-se mais pelo shoegaze dos Jesus & Mary Chain, seguindo as regras dos Black Rebel Motorcycle Club. Óculos escuros, tudo a preto e branco e as guitarras a distorcer, a distorcer.

Aos Crocodiles falta-lhes um grande disco. Têm grandes canções, "I Wanna Kill", "Mirrors" e "Hearts of Love" são excelentes exemplos, mas falta-lhes provar que são aquilo que parecem ser - bons.