terça-feira, 31 de agosto de 2010

Atenção: O vídeo do ano não é bem um vídeo


Sim, leram bem: o vídeo do ano não é bem um vídeo. É mais uma experiência interactiva. Os Arcade Fire usaram a plataforma Google Maps do Google para dar imagem à canção "Used to Wait", uma das mais belas de The Suburbs. O comum mortal pode fazer o vídeo passar pela rua onde nasceu - o vídeo foi visivelmente feito a pensar nos trintões que já deixaram a casa dos papás. A ideia é criar um conjunto de emoções que nos remetam para a nostalgia da infância. Conclusão: miúdo, se tens menos de 20 anos e ainda vives em casa dos papás, este vídeo não é para ti! Vídeo do ano, pois então.

O site recomenda que a experiência seja realizada através do Google Chrome - Firefox, IO, entre outros não o permitem visualizar. Para ver o vídeo basta seguir o link.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

[Vídeo] Male Bonding - Weird Feeling

Há uns anos fartávamo-nos de ouvir, ler ou mesmo escrever "Punk's Not Dead". A verdade é que essa espécie de slogan, essa frase-ícone continua a fazer todo o sentido, mas com outro tipo de protagonistas – quem já ouviu Gaslight Anthem sabe do que se trata. O punk não está morto, apenas diferente. Hoje, numa altura em que os Greenday já jogam num outro campeonato e são estrelas de rock globais, são bandas como os Male Bonding que resgatam essa linguagem marginal que em deu cabo do ouvido de muito boa gente a partir de 1976/77. Um aviso: estes punks do século XXI têm aspecto NERD, lêem livros, não andam de skate e jogam consolas.


Yes! James Murphy (LCD Soundsystem) ameaça voltar atrás


É a grande boa nova da semana: James Murphy - mentor, cérebro, porra... ele é os LCD Soundsystem! – anunciou que afinal poderá existir um sucessor para This Is Happening.

Murphy disse em entrevista à The Quietus: “Vamos continuar a fazer música, mas tocarmos todos juntos [ao vivo] é uma coisa Hercúlea porque todos nós vivemos em diferentes partes do mundo e cada um tem a sua vida. Queremos que isto faça parte das nossas vidas e não que nos ocupe todas as nossas vidas.”

James Murphy não quer ser uma estrela rock, não quer viver como um saltimbanco, só quer produzir boa música e nós só queremos estar vivos para a receber de braços bem abertos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

[Crítica] Janelle Monáe - The Arch Android

Agora que as oportunistas (Duffy, Adele e afins) desapareceram tão rápido como apareceram, agora que a soul já não é uma moda capaz de encher estádios e Amy Winehouse já não aparece todo o santo dia nos tablóides britânicos, agora, meus caros, é a altura certa para Janelle Monáe se mostrar.

Arch Android vai a todas - tal é fácil notar logo à segunda canção (a primeira é a intro), "Dance or Die": spoken word do grande Saul Williams, baixo pulsante, Monáe a esgrimir rimas pedidas de emprestado ao hip hop e um caos sónico que culmina num solo ácido. Já ganhámos o dia, mas há mais. Há jazz, funk, r&b, soul (muita soul) e rock psicadélico. Monáe quis fazê-lo em grande e foi isso mesmo que fez. O conceito é simples, estamos num futuro longínquo, baseado na longa-metragem de Fritz Lang, o clássico Metropolis, e em que tudo parece igual a este hoje: repressão, racismo, machismo, desigualdade e escravatura são uma realidade cada vez mais presente. Para isso chamou alguns dos melhores - Big Boi, Saul Williams e os Of Montreal - e dividiu o álbum em duas partes.

Na primeira metade é uma artista em estado de graça, um conjunto de canções pop perfeitas. A segunda metade é um objecto estranho, menos entusiasmante, mas nem por isso menos bom. É como se a primeira metade fosse uma explicação teórica, mas positiva desse Mundo que é referenciado algures em 3005 (!), e a segunda metade fosse a explicação prática. Um "Ok! Isto não é assim tão bom, pelo contrário, é terrivel e não há grande volta a dar”.

Tal como David Bowie, Monáe criou um épico ficção cientifica. Deu-se bem. Os 70 minutos só se começam a notar no último quarto do álbum. O Mundo em 3005 até pode ser terrível, mas o de hoje, o de 2010, é injusto: como tal, vamos continuar a adorar Lady GaGa e a ignorar Janelle Monáe.

9/10

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quem disse que a Internet está moribunda?

Prince disse e Prince é grande (como, aliás, provou no Super Bock Super Rock), mas nestas coisas das novas tecnologias não atira senão ao lado – prova máxima de que a opção de não dar entrevistas é mais que acertada. Vamos ao que interessa – a Pitchfork reuniu, num só artigo, a prova irrefutável que a Internet não está a morrer. Os novos discos de Eels, Isobel Campbell & Mark Lanegan, Jenny and Jonnhy, entre outros estão por todo o lado e à distância de um clique:

Depois dos muito recomendáveis Ballad of Broken Seas e Sunday at Devil Dirt, Isobel Campbell e Mark Lanegan voltam a dar as mão naquele que é um dos mais aguardados álbuns do que resta deste ano. Para ouvir é só seguir para a Spinner. Um deleite, com toda a certeza.

Também um deleite são duas das quatro canções já reveladas por Phil Selway, o baterista careca dos Radiohead que já destacámos neste mesmo blog. Agora podemos ouvir o álbum de estreia todo no NPR. E não nos esqueçamos que há disco novo dos Radiohead ainda em 2010.

Já de Jenny and Johnny (Jenny Lewis e Johnathan Rice) ainda não ouvimos nada, mas temos lido tão bem que nos apetece destacar. O álbum também está disponível para escuta no NPR.

Para acabar – e que bem que acabamos – destaque-se Tomorrow Morning, o último capítulo da trilogia composta por Mr. E. Hombre Lobo e End Times são em tudo diferentes. O primeiro é, segundo o próprio E, sobre o desejo. É bastante recomendável. O segundo é, claramente, sobre a dor de corno, o “álbum do divórcio” como foi apelidado. É menos bom - boas melodias, letras sinceras, mas cheias de lugares comuns dos quais já estamos fartos. Tomorrow Morning está dísponivel na Spinner, assim como os dois últimos discos dos Eels.

domingo, 22 de agosto de 2010

[Crítica] Arcade Fire - The Suburbs


Desde o início (2004, mais coisa, menos coisa) que os títulos das edições dos Arcade Fire são bastante explícitos – Arcade Fire, o EP, apresentava-os, Funeral, clássico absoluto, tinha a morte ali ao lado e Neon Bible descortinava a temática da religião e tudo o que gira à sua volta. Olhamos agora para The Suburbs e não temos dúvidas: o terceiro álbum da banda de Montreal é sobre essas "urbanizações construídas pelos homens com o objectivo de tornarem as cidades num lugar melhor para viver, mas que acabam por não ser em nada melhores que os grandes metrópoles que circundam".

The Suburbs é o mais ambicioso trabalho dos Arcade Fire. É um ambiciosíssimo álbum conceptual sobre os subúrbios, claro está, e as personagens (imaginadas ou não pela banda) que lá moram. Tem 16 canções e ultrapassa os 60 minutos de duração. Fazer tudo isto sem cansar o ouvinte é obra. É um disco fabuloso, menos imediato que Neon Bible, pelo que exige várias audições. É épico, sem soar pretensioso, maior que a vida em algumas canções ("Half Light I" e "Sprawl I (Flatland)") e não se coíbe a pôr a mão na ferida em outras ( a belíssima "City With No Children"). Nas grandes novidades destacam-se alguns apontamentos electrónicos ("Sprawl II (Mountains Beyond)", é o exemplo mais descarado).

Menos duas ou três canções que passam completamente ao lado ("Rococo" e "Deep Blue" não têm nada que nos faça dar-lhes atenção) e estaríamos perante uma grande obra-prima. Como temos duas ou três canções que passam completamente ao lado, ficamo-nos pela “obra-prima”.

Sejamos realistas - dificilmente estes canadianos vão gravar um mau disco. The Suburbs é o terceiro tiro certeiro em outras tantas tentativas e a melhor banda da última década vai continuar a sê-lo nesta. Agora, já sem grandes surpresas.

8/10


sábado, 21 de agosto de 2010

Phil Selway não é apenas o careca baterista dos Radiohead

Já sabemos há algum tempo que Phil Selway compõe canções a solo, fora do radioso Universo Radiohead. Esta é portanto uma bela "não notícia": das três novas canções disponibilizadas, não existe uma menos que boa e há uma mesmo muito boa - "Broken Promises". Oiça-se em baixo:

Philip Selway - Familial (Album Sampler) by Bella Union

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

[Crítica] Broken Bells - Broken Bells

Duas ideias importantes a reter sobre Danger Mouse:

1 - O produtor referiu uma vez que o segredo do seu sucesso estava no facto de saber escolher as pessoas com que colabora. É uma ideia paradoxal. Por um lado, os seus companheiros de trabalho são bons (por vezes extraordinários) podendo ofuscar o trabalho de laboratório de Brian Burton (seu verdadeiro nome), sendo ele, portanto, o elemento menos importante da equação. Por outro lado, Danger Mouse é bom porque é ele que escolhe os colaboradores - só esse dom, aliado ao seu talento natural, confere-lhe a imortalidade.

2 - Os projectos de Mouse raramente vão para lá de um único disco - excepção: Gnarls Barkley. De um lado temos um Mundo de fãs de um único projecto a chamar nomes feios ao produtor. Do outro temos um conjunto de melómanos cada vez mais rendidos aos talentos de um músico ímpar.

Com James Mercer, voz dos Shins, Burton volta a fazer um disco perto das convenções "indie" - de repente lembramo-nos das colaborações com Beck, com os Gorillaz e o polémico, mas maravilhoso Dark Night Of The Soul, em colaboração com os Sparklehorse, do falecido Mark Linkous. Temos samples, alguns tiques hip hop que o produtor não esquece, falsetes, belas orquestrações e um conjunto de canções fantásticas. Algumas referências: "The Ghost Inside" podia ser dos Gorillaz, em "Sailing To Nowhere" lembramo-nos dos Mars Volta e "October" faz-se um apanhado das guitarras que nos levam, invariavelmente, a bandas como os Gang of Four, Franz Ferdinand ou Futureheads. Chegamos a jurar que também por aqui andam os New Order a tornarem-se numa qualquer banda psicadélica da década de 60. Ah! E há "High Road" um dos momentos pop mais perfeitos do ano.

Não sabemos o que vai Danger Mouse fazer a seguir. Não atingirá certamente o nível mediático dos projecto com Cee-Lo Green, os Gnarls Barkley. Mas estamos certos que os níveis criativos, esses não vão baixar. Já começam a ser demasiados tiros certeiros dele desconfiar.
8/10

sábado, 14 de agosto de 2010

[Crítica] The National - High Violet

Há qualquer coisa nos chamados "mais esperados do ano" que, normalmente, os torna menores do que aquilo que antecipávamos. Se no cinema nem sempre os "mais esperados" são-no pelas melhores razões, na música a expectativa aumenta quanto melhor for o clássico (ou clássicos) que ficou lá atrás. Os "mais esperados (ou antecipados) ”, referíamos, raramente cumprem as expectativas - precisamente porque estas estão lá em cima, bem altas e a banda num pedestal inalcançável. É por isso que High Violet é especial: vence inapelavelmente o jogo das expectativas (altas, muito altas).

O quinto disco dos norte-americanos é uma pequena maravilha - sim, é superior a Boxer, por mais incrível que Boxer seja (e é). Mas atenção: as principais premissas mantém-se. Aliás, os National não tinham muito que escolher, restava-lhes voltar a fazer mais um conjunto de canções perfeitas - com "Terrible Love", "Anyone's Ghost", "Afraid of Everyone", "Bloodbuzz Ohio" e "Conversation 16" - tudo grandes, grandes, enormes canções - à cabeça. O quinteto de Brooklyn volta a dar uma enorme preponderância à bateria e, desta feita, há Nick Cave na voz de Matt Berlinger para além dos já conhecidos tiques à Stuart Stapples (Tindersticks) e Ian Curtis. Os National chamaram Sufjan Stevens à equação, mas nem era necessário. Mesmo sem o autor de Illinois, o álbum continuaria a roçar a perfeição.

High Violet é o disco que confirma os National como uma certeza absoluta e o segundo clássico instantâneo na carteira de uma banda especial.

9/10


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

[Reportagem] 16º Super Bock Super Rock

Com três palcos a servirem um recinto de médias dimensões, o Festival Super Bock Super Rock juntou alguma da melhor colheita “indie” dos últimos tempos a alguns nomes da soul – nova e “velha” – num cartaz impressionante.

Dia 16:

No primeiro dia subiram ao palco os dois grandes OVNIS do festival: Keane e Pet Shop Boys. Relativamente aos Keane nada a apontar: não vimos o concerto. Dos Pet Shop Boys sobressaiu um espectáculo cheio de artifícios, uma incrível falta de dinâmica e um desfilar de canções tal e qual como estas aparecem em disco. Os Pet Shop Boys não arriscaram o que quer que fosse. Os Pet Shop Boys já não arriscam nada. Os Pet Shop Boys ultrapassaram o prazo de validade. Nunca foram grande coisa, hoje são penosos. Antes, Jamie Lidell tinha inaugurado o palco em grande forma. Com “Compass”, o sucessor do muito bem sucedido “Multiply”, na bagagem, Lidell voltou a mostrar que, embora o novo disco não gere consensos, em palco continua a ser memorável . Das bandas pre-load assistimos a algumas partes dos concertos, mas nenhuma das três se destacou. St. Vincent subiu ao Palco EDP à hora do por do sol. Fez todo o sentido – esta música é uma óptima banda sonora para se ouvir deitado na relva com o sol a esconder-se no horizonte. A rapariga pode ser muito talentosa – assim pareceu, de facto -, mas não está talhada para este tipo de palco. Aos Beach House pertenceu o concerto da noite. Este foi o primeiro concerto do duo ao ar livre e o espectáculo parece só ter a ganhar com isso. Canções como “Gila”, “Zebra”, “Silver Soul” ou “Walk In the Park” ganham uma dimensão ainda maior. Tudo muito bonitinho, tudo perfeito. Não conseguimos ver a actuação dos Temper Trap nem a de Mayer Hawthorne. Dos Cut Copy vimos meia-dúzia de minutos – pareceu-nos que a banda australiana estava a cumprir a principal missão a que se propõe: fazer dançar os milhares de presentes ao som das canções do bem sucedido, mas nem por isso entusiasmante “In Ghost Colours”. A fechar o palco EDP estiveram os Grizzly Bear. Já os vimos fazer melhor no Coliseu dos Recreios. Nem a participação de Victoria Legrand, dos Beach House, conseguiu elevar a fasquia para outros níveis. Foi um mau concerto? Não, mas continua a faltar qualquer coisa aos Grizzly Bear para se tornarem gigantes ao vivo. Continuamos sem perceber o que é – e, pelos vistos, a banda também.

Dia 17:

A abrir o Palco Super Bock, no segundo dia, esteve Tiago Bettencourt. Erro de casting. O ex-líder dos Toranja devia estar no EDP. As desmedidas dimensões do Palco Super Bock retiraram qualquer hipótese das canções de Bettencourt brilharem. Não é que o músico seja de excepção, mas fica a ideia que, noutras condições o concerto não teria sido uma seca tremenda. Desistimos à quarta canção. Seguiu-se Julian Casablancas, um dos mais esperados da noite. O líder dos Strokes não estaria nas melhores condições, mas mesmo assim subiu ao palco. Apresentou várias canções do novo disco, cantou “Hard to Explain” e “Automatic Stop” e, ao fim de 45 minutos, saiu do palco com um seco “Obrigado” para não mais voltar. Amuo ou indisposição? Continuamos a não saber responder. Depois os Hot Chip. A electrónica que também é rock e que, no fundo, é indie, contagiou uma assistência que só precisava de um pretexto para saltar e dançar como se os Hot Chip fossem a “next big thing” da música de dança. Não são, nem sequer andam lá perto, mas a continuarem assim rapidamente vão-se tornar numa banda estádio. Entretanto, no palco secundário, já tinham actuado Holly Miranda – guitarras épicas, mais uma voz feminina a quer furar as convenções indie e uma agradável surpresa – e uma Rita Red Shoes igual a sempre: enfadonha e de gosto discutível. De Patrick Watson vimos três canções. Muitas cordas (violinos e guitarras acústicas à cabeça) e um registo tão épico quanto clássico. Não conseguimos ficar mais tempo, porque do outro lado os Vampire Weekend estavam prestes a entrar em palco, mas o que vimos prometia um concerto memorável, principalmente para os mais aficionados. Os Vampire Weekend deram o concerto da noite. Não! Os Vampire Weekend deram o concerto do festival, pelo menos até ao final do segundo dia – um pequeno génio de Minneapolis trocou-lhes as voltas. Começaram com artilharia pesada: “Holiday” tem potencial para se tornar num hino de Verão tardio, desfilaram êxitos com a energia juvenil que os caracteriza. O novo “Contra” pode não ser tão bom quanto a aclamada estreia, mas é um belo álbum pop com influências africanas. Lembramo-nos de Paul Simon, mas também lembramo-nos de Ali Farka Touré que africanizou as influências ocidentais. Os Vampire Weekend fazem o contrario, ocidentalizam as influências africanas. O resultado é quase perfeito. Fazem todo o sentido aqui e agora: hoje. Dos Leftfield vimos meia-dúzia de minutos e não conseguimos perceber porque é que um dia isto chegou a ser alvo de algum culto.

Dia 18:

Ao terceiro dia, o Super Bock Super Rock encheu-se de gente de todas as idades para o “Artista” mais aguardado do evento: Prince. O dia começou cedo com os Palma’s Gang. Acompanhado de, entre outros, Zé Pedro dos Xutos & Pontapés, Jorge Palma fez desfilar várias canções, que, tendo em conta o actual momento da música portuguesa, soam a fora do prazo de validade. Prazo de validade é algo que os Stereophonics já ultrapassaram há muito tempo. A mediania da banda britânica nunca mais do que isso e o público só despertou quando “Dakota” e “Have a Nice Day” fecharam o concerto. Seguiram-se os Spoon e as suas canções perfeitas que vêm de discos quase perfeitos que quase ninguém tinha reparado até à aclamação critica de “Ga Ga Ga Ga Ga”, extraordinário disco de 2007. O novo “Transference” volta a manter a fasquia, ainda que não a eleve a um novo patamar e os Spoon continuam irrepreensíveis ao vivo. Coube aos National actuar antes de Prince. A banda de Matt Berllinger voltou a fabricar uma obra-prima- “High Violet” é isso mesmo, uma obra-prima quase tão obra-prima quanto o enorme “Boxer”. Canções como “Apartment Story”, “Fake Empire” ou “Squalior Victoria” convivem na perfeição com novos temas como “Terrible Love” “Afraid of Everyone”, “Anyone’s Ghost” ou “Bloodbuzz Ohio”. Estas e outras grandes canções transformam qualquer espectáculo dos National num momento de catarse colectiva, a que parece que vamos voltar a ter direito no início de 2011. Aguardamos ansiosamente. Antes de Prince, viajámos várias vezes até ao Palco EDP. Dos Morning Benders só ouvimos a última canção, um dos singles do ano, “Excuses”. Dos Wild Beasts vimos um pouco mais. Registo falsete, vocalista com ares de Zé Zé Camarinha e uma actuação que nos pareceu caminhar para adjectivos como “sólido” e “competente”. Infelizmente, graças aos National, não conseguimos assistir a nem um minuto de Sharon Jones & The Dap Kings. A fechar o Palco EDP, os John Butler Trio levaram a sua legião de fieis com eles e não desiludiram – pelo menos nas primeiras cinco/seis canções. Entretanto o Rei – qual Prince! – subiu ao Palco Super Bock para uma actuação histórica. Soul, mas mesmo muita soul, conduzida pelos dotes de guitarra inequívocos do grande “Artista” – qual João Vieira Pinto! Quando saiu para encore, tínhamos quase uma hora de actuação em cima, já sabíamos que Prince voltaria acompanhado. Voltou com Ana Moura e, sim, subjugou-se à portuguesa, acompanhando-a em dois fados conduzidos pela voz da fadista e pela guitarra eléctrica – sim, eléctrica - de Prince. Mas havia mais. Haviam que puxar pela garganta do povo. Não faltaram, claro, êxitos como “Kiss” e “Purple Rain” – muito longa, mas nem por isso enfadonha. Acabou por deixar o palco, que entretanto se tinha tornado numa grande pista de dança, com “Dance (Disco Heat)” de Sylvester. Memorável. Pouco memorável foi o concerto dos Empire of the Sun. Relatos de Inglaterra diziam-nos que o projecto de Luke Steele tinha falhado na sua missão de colocar as dezenas de milhar de pessoas a dançar no Glastonbury. Em Portugal terá sido melhor. De facto, muita gente se deixou contagiar pelas medíocres canções do álbum de estreia, mas exige-se mais quando o que está em causa é o fecho de um festival. E esse deveria ter sido em beleza. Com Prince, por exemplo.

Nota: A foto não pertence ao evento em questão

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Festival Sudoeste: Flaming Lips, M.I.A., Friendly Fires, DJ Shadow e Mike Patton vêm aí

O cartaz está longe de ser consensual, mas nem por isso a 14ª edição do Festival Sudoeste deixa de ser a mais interessante dos últimos cinco anos - já lá vai longe a saudosa edição de 2005 que trouxe Kasabian, Oasis, LCD Soundsystem, The Kills, Dinosaur Jr, Doves, Thrills entre muitos outros projectos com algum ou pouco interesse. Há coisas muito desinteressantes no cartaz 2010: Sugababes, David Guetta, James Morrison e Colbie Caillat... haja paciência para tanta coisa chata. Mas há um outro (e muito interessante) lado: Friendly Fires, Mike Patton, Flaming Lips, M.I.A., DJ Shadow e uma bela representação portuguesa liderada pelos excelentes Orelha Negra e Diabo na Cruz. Vamos ao que interessa. Logo no primeiro dia a sério, o 5 de Agosto, dois cabeças de cartaz de luxo: M.I.A. e Flaming Lips. A primeira traz o seu caldeirão de estilos, em que se incluem baile funk, hip hop, kuduro e tudo o mais que quiserem lá meter - ela não se importa - que a tornam um dos maiores ícones do nosso tempo. O novo álbum, MAYA, não é consensual, mas há um passado a celebrar - dois discos quase perfeitos que deverão ser revistos numa actuação que se espera intensa. Já os Flaming Lips são mais que uma certeza. São uma das melhores máquinas de palco da actualidade - os relatos e vídeos desta digressão mostram-nos uma festa feita de serpentinas e bolas gigantes, para além de grandes clássicos e alguns novos temas da banda - nos quais se destaca o fenomenal "Sparrow Looks Up the Machine". O momento áureo de DJ Shadow já lá vai - algures em 1996, aquando da edição do clássico Entroducing..., mas o novo espectáculo - o youtube documenta-os, mais uma vez - e o seu legado são razões mais que suficientes para uma romaria à Zambujeira do Mar. Mike Patton é Mike Patton e só esse facto já pode ser considerado valor acrescentado. O espectáculo que trás ao Sudoeste 2010 é bem diferente daquele que trouxe em 2009, com os Faith No More. Agora Patton anda armado em tenor italiano e, neste concerto, faz-se acompanhar de 12 membros da Orquestra do Algarve - vai-se lá perceber porquê. Para o fim os Friendly Fires e o interessante homónimo álbum de estreia - disco pop, com alguma electrónica que ao vivo é coisa para resultar - pena ser, a par de The Very Best, Beirut e Lykke Li, a única boa nova deste cartaz. Um cartaz que conta, isso sim, com óptimas boas novas nacionais - peixe:avião, Orelha Negra, Diabo na Cruz -, algumas dúvidas - João Só e os Abandonados, Expensive Soul, Tiago Bettencourt e Carminho - e infelizes certezas - Anaquim e NuSoulFamily. É o melhor cartaz desde 2005 - e superior ao Paredes de Coura 2010 e ao Marés Vivas 2010. É o melhor cartaz de 2010, no que a festivais tradicionais diz respeito - e isso, com tanta coisa chata, é preocupante.