terça-feira, 28 de junho de 2011

[Reportagem] Ryan Adams - 16 de Junho - Aula Magna

Primeiro M. Ward, depois Sufjan Stevens e agora Ryan Adams. Os últimos meses foram generosos para fãs do country e da folk do início da última década. O único que terá mudado radicalmente - a um nível meramente musical - é Sufjan Stevens que também terá sido responsável pelo melhor dos três espectáculos.

O de Ryan Adams, no passado dia 16 de Junho, decorreu aos soluços - um ataque de soluços terá sido uma das poucas coisas que não lhe aconteceram durante o concerto -, o músico é distraído, trapalhão e desajeitado. Antes do espectáculo, para além dos folhetos distribuídos à entrada, ouvimos a mensagem em português e em inglês, a mensagem que apelava ao não uso o telemóvel durante o espectáculo. Mais: Ryan Adams, conhecido por um certo mau feitio que acabou por não se confirmar, recusou ser fotografado.

Com o espectáculo a meio chegou a desabafar: “não acredito que isto possa piorar”. Não estava a exagerar. Logo na primeira canção, a harmónica pregou-lhe umas quantas partidas. Ryan não foi meigo: bateu-lhe e gritou-lhe: “acorda!”. Curiosamente, a sua relação com a harmónica melhorou substancialmente até ao fim. Depois vem o humor (muitas vezes auto-depreciativo). No intervalo de duas canções, atira: “A actuação do Jesse Malin [o músico que assegurou a primeira parte] é como uma festa no quintal, a minha é como uma ida ao dentista”. Numa altura em que fazia algumas mudanças no palco: “Gostava de poder chamar um técnico de som, mas eu sou o técnico de som”.

Num concerto acústico e intimista, Ryan Adams, sozinho em palco, passeou-se pela sua discografia (já la vai uma década) que tem tanto de Bob Dylan como de Bruce Springsteen, fez uma versão de uma canção dos Cowboy Junkies e apresentou uma ou outra nova canção. Podemos não ter tanta fé no autor de “Gold” como tínhamos em 2001, mas Ryan não tem uma canção que justifique o seu desaparecimento – sim, chegou a ser equacionado.

Com a única guitarra que traz para a digressão, a guitarra com a qual escreveu quase todas as suas canções e que um dia será, com toda a certeza, vendida no eBay a peso de ouro, Ryan Adams deu um belo espectáculo, desligado da corrente, sem telemóveis, sem iPads e, mais importante, sem palavras em português. Os “Obrigados” foram “Thank yous” - até porque não é necessário converter uma plateia que já está convertida.

Publicado originalmente em Ruadebaixo.com

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