quarta-feira, 15 de junho de 2011

[Crítica] PJ Harvey - Let England Shake


PJ Harvey podia ter perdido a relevância - por mais podre que fosse a relevânica de PJ Harvey. Polly Jean podia ter perdido fãs - perdeu, concerteza, os que pouco ou nada interessavam. Let England Shake podia ter sido o canto do cisne (branco ou negro, tanto faz, tendo em conta o guarda roupa mais recente de Harvey) para a artista de Dry. Mas é o oposto, é aquilo que, acreditamos, Polly Jean já tinha procurado no antecessor White Chalk e é uma obra-prima. Arriscamos: dificilmente haverá neste ano da graça de 2011, um disco que nos atinja de forma tão arrebatadora como este, que nos desperte o mais variado tipo de emoções (tristeza, desespero, mágoa, ódio, esperança, etc).

Let England Shake espanca-nos do início ao fim, nós, ouvintes, levamos na tromba e, qual Mahatma Gandhi à rasca, damos a outra face e suplicamos por mais. É um disco político, de guerra, pessimista como os tempos que vivemos. "Let England Shake" é a visão pessimista de um soldado. Centra-se na Campanha de Gallipol, uma operação realizada no Império Otomano em plena I Guerra Mundial por franceses e britânicos - que pretendiam assegurar uma rota marítima para a Rússia. A operação falhou e, tal como hoje, arrastou-se pelo tempo (9 meses). É claro que intervenções no Afeganistão e Iraque não podem estar alheias a tudo isto. "I've seen and done things I want to forget / I've seen soldiers fall like lumps of meat / Blown and shot out beyond belief / Arms and legs were in the trees", dispara em "The Words that maketh murder" - PJ Harvey pode refutar a quantidade de vezes que achar necessário, mas não nos conseguirá convencer que isto não é um disco político. E ainda bem que o é - é isso que o torna ainda mais relevante hoje, numa altura em que a história já nos ensinou inúmeras vezes que o homem só tem alguma actividade cerebral "depois de esgotar todas as alternativas", já dizia Abba Eban há muito tempo atrás.

O facto de Harvey ter gravado numa igreja torna canções como, por exemplo, "On Battleship Hill" e "In the Dark Places" ainda maiores. Se em White Chalk a artista revelava graves dores de crescimento, uma enorme vontade de forçar a maturidade, em Let England Shake essa maturidade revela-se sem grande esforço.

Acompanhada pelos suspeitos do costume, John Parish e Mick Harvey, e por instrumentos que são uma novidade no universo de Polly Jean, como a citara e a auto-harpa (a Carter Family gostaria disto), a senhora que em tempos idos era uma menina de guitarradas sujas, fabricou aquele que é, provavelmente, o melhor "disco de guerra" de sempre.

Aos 40, PJ Harvey atingiu o topo, o cume de uma carreira que nunca como antes susciptou tantas expectativas. Independentemente de todos os elogios que lhe têm sido dirigidos, é provável que só daqui a uns anos venhamos a compreender a extensão deste trabalho de PJ Harvey. Uma obra-prima, um disco insuperável.

10/10











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