quarta-feira, 1 de junho de 2011

[Reportagem] The National - 24 de Maio - Campo Pequeno

O concerto no Campo Pequeno, em Lisboa, foi, depois do belo concerto no Super Bock Super Rock, a consagração nacional dos The National – acreditamos que esta ideia também se aplique à data do Porto. Sala completa – havia apenas meia dúzia de cadeiras disponíveis, naqueles lugares que não interessam -, o público ideal e a ressaca do segundo disco perfeito consecutivo. Os National são um fenómeno, mas, ao contrário do que muitos possam pensar, não um fenómeno exclusivamente português – é um fenómeno global. Passar de banda de culto, capaz de esgotar a Aula Magna, a banda de salas como o Campo Pequeno ou um Coliseu foi uma questão de cinco álbuns de estúdio.

Começaram com a perfeita «Start a War», uma das melhores canções de Matt Berninger e companhia. Um arranque suave, a testar um público devoto, ávido pelas canções belas, perfeitas e que até hoje acreditávamos que perdiam um “qualquer coisa” - que mal sabíamos explicar – ao vivo.

As premissas de grande parte das canções dos National são simples: a canção começa lenta para ir subindo de intensidade até atingir um clímax – guitarras épicas que aspiram o céu, uma secção de sopros incessante e um Matt Berninger que ora é um animal domesticado ora se torna num selvagem, principalmente nas canções dos álbuns pré-“Boxer”. Isto poderia ser a fórmula secreta para qualquer banda conquistar o apreço da crítica. Não o é pela simples razão de que cada banda/artista faz destas premissas aquilo que quer/pode. É quase como uma aula de Matemática na escola primária – nas contas safam-se os mais espertos. Os National sabem que dois mais dois são quatro e que esse número ao quadrado é 16. Tão simples quanto isto – são bons, são os melhores da turma. Mas se a coisa em disco resultava, ao vivo continuava a faltar qualquer coisa, voltamos a teimar.

Então, o que raio tornou este concerto tão diferente de tantos outros que os National foram dando, ao longo dos últimos anos, em Portugal?

São várias as razões. Um: O concerto foi em nome próprio, o que só não coloca de parte os concertos na Aula Magna e de Guimarães – curiosamente, dizem muitos, os dois melhores concertos antes desta dose dupla de Maio de 2011; Dois: Os National cresceram e com isso o espectáculo melhorou. O pano gigante, no qual são projectadas imagens da actuação, é uma magnífica adição ao concerto; Três: Matt Berninger, o desajeitado vocalista da banda de Ohio, está mais intenso do que nunca, como ficou comprovado nos incentivos no momento mais especial da noite, «Vanderlyle Crybaby Geeks» – já lá vamos.

Arriscamos isto – à excepção do concerto dos Arcade Fire na Meca do indie que é o Super Bock Super Rock, não vamos ter este ano outro concerto em que se sinta uma tão grande partilha entre público e banda. Começámos, já referimos, com «Start a War», espécie de aquecimento, para o que se seguiu. Seguimos por ali fora com «Anyone’s Ghost», «Secret Meeting» e «Bloodbuzz Ohio» – esta última a tornar o Campo Pequeno, pela primeira vez, numa só voz. Em «Squalor Victoria», Berninger dá os primeiros sinais de loucura mediada, que viria a confirmar, como é costume, em «Abel» e «Mr November» – nesta última não nos “braços de chefes de claque”, mas de fãs – todos eles número um, porque com os National a devoção é total. O melhor, claro, ficou guardado para o fim. Primeiro, antes do encore, «Fake Empire» – os gémeos Dessner nos (belos) coros, o baterista Bryan Devendorf – um dos melhores da sua geração - em alegre cavalgada, Berninger ao volante e o público ora deixando-se levar ora tentando-se sobrepor à voz da banda.

Dava para ainda tirar outro coelho da cartola? Dava, deu – os cinco desligam a amplificação e avançam para mais perto do público. Seguiu-se uma versão acústica de «Vanderlyle Crybaby Geeks», um momento mágico e todo ele de partilha entre banda e fãs – duvidem se o fã mais durão vos disser que não deixou verter uma única lágrima durante estes inesquecíveis três/quatro minutos. O concerto dos National foi mágico, no limite do absurdo, insuperável. Próximo passo: ser cabeça-de-cartaz de um festival português, aquele que fica a Sudoeste – sim, já ultrapassaram os Interpol.

Artigo originalmente publicado em www.ruadebaixo.com

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