domingo, 17 de abril de 2011

[Crítica] Destroyer - Kaputt


Se Dan Bejar fosse o próximo convidado a preencher o questionário que aparece na última página da Pública (sai aos Domingos com o jornal O Público), a resposta à questão "Com que idade percebeu que falou na vida?" seria: "38". Kaputt é resultado da mente de alguém que percebeu que andou todo este tempo enganado, que afinal não era nada disto que queria para a sua vida. Foi-se Dylan e foram-se os Stones, foi-se a folk e os blues e vieram as canções com títulos intermináveis. Abriram-se novos horizontes e perspectivas. Proporcionou-se um grande disco.


É como diz o título: Kaputt. A fórmula avariou, desgastou-se. Não que os discos fossem absurdamente maus - não eram -, mas estava ali, à mão de semear, uma oportunidade para soltar o génio interior de um músico que já era um grande liricista. Bay of Pigs, o ep, lançou o burburinho. Kaputt confirma-o. É um dos discos mais singulares do primeiro semestre de 2011. Temos uma feroz crítica à América em canções como "Savage Nith at the Opera", "Suicide Demo For Kara Walker" e a óbvia "Song For America". Temos também belas vozes femininas, letras que fariam um agente da PIDE sentir-se um idiota, influências jazz - a de música de Gil Evans e Miles Davis é assumida pelo próprio Bejar -, sopros, um solo de guitarra que nos apanha completamente fora de guarda na já citada "Savage Night at the Opera" e os anos 80 dos New Order.


Soa ainda a peça teatral, conseguimos ver Dan Bejar a escrever sozinho num quarto ou num escritório em animado monólogo interior (ou exterior), qual génio louco capaz de nos converter à sua saudável insanidade.


Ao nono disco, Destroyer divide os fãs, mas, sobretudo, angaria vários novos admiradores. Canções sobre olhos azuis e não só, Kaputt é material para balanço anual.


8/10


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