sábado, 21 de novembro de 2009

[Música] Noah And The Whale - The First Days Of Spring


"A experiência de voltar a viver a ferida do passado é mais forte do que a vontade de a esquecer. E assim a existência do ressentimento mostra como é artificial o corte entre o passado e o presente." Marc Ferro

Haverá razões para afirmar que Laura Marling - ex-voz dos Noah And The Whale que seguiu carreira a solo no ano passado - lixou Charlie Fink, vocalista, mentor e cérebro dos Noah And The Whale? Há e não há. Sim, é verdade que Laura não regressou à sua banda desde que o sucesso a nível individual lhe bateu à porta. É verdade que, por arrasto, deixou o ex-namorado, o tal Charlie Fink, na penumbra. Mas e se nada tivesse acontecido? Provavelmente teríamos outro Peaceful, The World Lays Me Down, disco de estreia dos Noah And The Whale, que, colocado ao lado deste First Days Of Spring soa a brincadeira de crianças. Em Peaceful... cantava "How Could You Believe In Love When You Don't Believe In God". No espaço de um ano (adivinhamos nós) virou ateu. Deixou de acreditar em Deus. Deixou de acreditar no amor.

Muito se tem discutido acerca do estado de espírito de Fink, aquando da escrita das letras para estas canções. É amargura. É dor de corno. É testamento sem réstia de esperança ou vida. Não é só isso. Há uma luz no fundo do túnel. Atente-se, por exemplo, ao próprio título do disco: First Days Of Spring. Parece adivinhar que melhores tempos virão. Confirma-se logo ao primeiro tema, homónimo, Fink começa o disco com um "First Days Of Spring / And My Life's Starting Over Again". Há esperança, há um começar de novo, uma força que o impele a avançar. Mas para cada frase de esperança há logo outra que a contradiz e nos mostra que afinal as coisas ainda não estão resolvidas: "I'm Still Here Hoping That Someday You May Comeback". É o maldito do ressentimento, já o dizia Marc Ferro.

É um disco de paisagens. Ora estamos numa cabana no meio de nenhures a ouvir a água de um rio a correr como na passagem da bela "Our Window" para "I Have Nothing", ora ficamos no recanto do lar, com uma tempestade lá fora e a banda sonora ideal que são as canções de Fink e companhia. Folk e pop sinfónica (os instrumentais e "Love Of An Orchestra"), o melhor dos dois mundos.

First Days of Spring é um manual do artista desencantado, de mal com a vida, um poço de frustrações e possibilidades (esperanças) que sabemos que podem não se cumprir. É um desabafo. Um dos melhores desabafos dos últimos tempos.

8/10

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