sexta-feira, 27 de maio de 2011

[Reportagem] Glasser + Drawlings - 21 de Maio - Musicbox


Sexta-feira, 20 de Maio, de mulheres num Musicbox bem composto. O interesse recaia quase todo em Glasser, mas havia alguma curiosidade em ver como Drawlings aka Abby Portner, irmã de David Portner, ele dos essenciais Animal Collective, se “safaria” a solo.

Uma conversa paralela entre dois jovens: “Sabes quem é? É a irmã do [David Portner dos] Animal Collective”, ouvimos. Resposta: “Ah, então é por isso que ela é assim!”. E o que é isso de ser “assim”? É Drawlings a desenhar paisagens através de sons samplados que tanto podem ser os de um cavalo excitado como os sons de caixinha de música. O timbre da sua voz chega a lembrar Bjork, mas o tom é onírico e os efeitos utilizados são múltiplos. Cumpriu naquilo que era a sua função – abrir para Glasser (que também estava no meio do público).

Glasser é personagem misteriosa. O cabelo loiro (ou será ruivo?) e a pele excessivamente branca parecem denunciar ascendência nórdica. O concerto começa com «Apply», uma das canções mais fortes do disco. A norte-americana mexe-se de forma característica. Passados dois minutos, a canção sobe de intensidade, ele, o tipo que a acompanha ao vivo, o homem das máquinas, atira-se furiosamente à percussão e pensamos, “Muito bem, isto promete. Ainda agora começámos e já estamos assim?”. Tememos pelo espectáculo. Aguentar-se-á?

A música estabelece alguns paralelismos com as novas rainhas do gótico, Zola Jesus e, sobretudo, Fever Ray. Mas Glasser é uma outra coisa. A autora de “Ring” mantém o negrume e harmonias vocais dos seus pares, mas adiciona-lhes fortes influências orientais, o que lhe confere um som novo e genuíno. Ao vivo, ela é a voz – ele, o tipo que a acompanha, está encarregue de todo o resto. Há beats dançáveis, uma voz carregada de reverb e uma música que em disco soa bem e ao vivo ainda melhor.

Após uma intensa hora de espectáculo, o duo sai da sala. Espera-se um encore, mas Glasser volta sem companhia. “Já tocámos o disco todo, mas querem mais uma?”. Perante o “sim” da audiência, a artista desabafa: “esta é uma canção tradicional inglesa”. Cantou-a a capella e, numa única canção, demonstrou toda a flexibilidade da sua voz que chegámos a colocar em causa, a meio do espectáculo. O espectáculo? Aguentou-se, pois.

Artigo originalmente publicado em www.ruadebaixo.com

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