quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

[Reportagem] The Young Gods - 31 de Janeiro - Santiago Alquimista


Segunda noite da mini-digressão protagonizada pelos Young Gods no nosso pequeno país. Segunda noite num Santiago Alquimista bem composto, ainda que não esgotado – como aconteceu na noite anterior. Há quem se queixe, mas a culpa não parece ser da maior banda que a Suíça alguma vez pariu - “20 euros por esta sala?”, ouvimos, ainda antes do trio - que, em palco, se transforma em quarteto durante grande parte do tempo – fazer-se ouvir através dos primeiros sons electrónicos que marcam o ritmo de «Everybody Knows», canção do homónimo último disco. Resta referir que este público, o dos suíços Young Gods, é um público adulto que conhece a história do rock industrial de uma ponta à outra, dos Throbbing Gristle aos Nine Inch Nails.

À segunda canção da noite a percussão endurece e os sons electrónicos escurecem. À terceira entra a guitarra eléctrica e o ritmo é mais vivo e dançável – há pandeireta e solo de guitarra. Logo depois já nos esquecemos do local onde nos tínhamos encontro marcado com estes suíços. Somos teletransportados para cenários do livro da Bíblia de São João, incineradoras localizadas em cenários desoladores e locais em que sons maquinais (de locomotivas movidas a droga e não a carvão) como os que ouvimos fazem sentido.

Pausa em «Mister Sunshine» para trocar a garrafa de oxigénio – o ar aqui é irrespirável – com falsete de Franz Treichler. Depois volta à carga – Treichler pega no microfone e aponta a luz para o público enquanto grita sucessivamente “And the winner is…” e transforma este num dos momentos mais intensos do concerto. Não obtemos resposta, mas ainda assim o público responde – os corpos balançam e dançam sincronizadamente. Perto do encore assistimos a cargas de distorção e feedback entre outros sons psicadélicos. E já que mencionamos algum psicadelismo, há nesta altura meia dúzia de elementos na plateia mais preocupados em dar umas boas gargalhadas na sequência de frases como “Os Rolling Stones não cabiam aqui dentro”, como se tivesse descoberto a teoria da relatividade.

Os 25 anos de carreira fazem-se sentir a um nível meramente físico: vislumbramos cabelos brancos e as inevitáveis rugas. Em todo o resto continuam os mesmos de sempre – quase duas horas entre o pós-industrial mais violento e momentos mais introspectivos e até acústicos com pinceladas psicadélicas aqui e ali. O jogo de luzes é importante, tudo conta para tornar o ambiente mais soturno, há que dar uma credibilidade visual àquilo que os ouvidos assimilam. Há algo de apocalíptico em tudo isto, as palavras de ordem parecem-nos carregadas de raiva, experimentamos ambientes tensos, estranhos e desconfortáveis. Subimos e descemos de intensidade, qual elevador emocional que tanto nos entusiasma como nos conforta.

No encore, temos direito a todas a canções que queríamos ouvir: «Gasoline Man», «Skinflowers» e «Kissing the Sun» à cabeça – esta última, a ter direito à maior ovação da noite e a um pequeno mosh. Pensávamos nós que este seria o fim, apoteótico como mandam as regras. Mas não, a banda anuncia que, a fim de evitar uma saída de palco para segundo encore, prefere dar já a última canção da noite que acaba por ser três.

Imediatamente antes do final, um indivíduo fixa o olhar na planta de emergência – acto inteligente, porque isto num concerto dos Young Gods nunca se sabe se e quando é que o recinto vai arder.

Texto originalmente publicado em www.ruadebaixo.com

Fotografia: José Eduardo Real

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