sábado, 19 de fevereiro de 2011

Em resposta ao comentário «Que bem se está no Porto!» de Rodrigo Affreixo publicado no suplemento Ípsilon, no Jornal Público

Em resposta ao comentário «Que bem se está no Porto!» de Rodrigo Affreixo publicado no suplemento Ípsilon, do Jornal Público.

Não me incomoda o facto de Rodrigo Affreixo colocar o Porto como uma espécie de Meca cultural - o que contradiz aquilo que se tem dito nos últimos tempos acerca daquela que foi a Capital Europeia da Cultura, no longínquo ano de 2001. Incomoda-me sim, a falta de coerência e a falta de informação – esta última justificada no momento em que coloca, lado a lado, Lisboa e Porto, limitando-se à comparação fácil.

Relativamente à falta de coerência: Começa por referir que "se compararmos o que temos hoje no Porto com o que há em Lisboa, com 300 e tal quilómetros de distância entre as duas cidades, não nos podemos queixar muito...", para depois referir "O que nos falta mais? A Cinemateca Portuguesa. É uma das melhores do mundo e está sediada em Lisboa. Paciência, também tem de ficar alguma coisa na capital...". Então de um "não nos podemos queixar muito, o senhor Rodrigo Affreixo passou para um "também tem de ficar alguma coisa na capital..."? Por favor, alguma coerência senhor Rodrigo Affreixo.

Mas pior é quando o senhor Rodrigo Affreixo tenta comparar os espaços nocturnos existentes em Lisboa e no Porto. Para Rodrigo Affreixo o Porto tem o Hard Club, o Passos Manuel, o Becas, o Maus Hábitos, o Plano B, o Armazém do Chá, o Café do Lait, o Gare, o Pitch, o Trintaeum, o Industria, o Café Lusitano e o Zoom. Para Rodrigo Affreixo, Lisboa tem o Bairro Alto – que, atenção, nem é um espaço, no máximo será um espaço com vários espaços lá dentro - e o Lux. Lisboa nocturna, portanto, segundo Rodrigo Affreixo, resume-se ao Bairro Alto e o seu botellón e a uma discoteca.

Senhor Rodrigo Affreixo: posso-lhe referir que, só no dia em que lhe escrevo, Lisboa vai receber Kimi Djabaté no Musicbox - um clube com uma incrível variedade programática e que fica (não sei se conhece) no Cais do Sodré -, o trompetista Peter Evans na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto - afinal não há só botellón - e Hercules & The Love Affair no seu preferido Lux. Mas há mais: vão estar novos projectos nacionais como os Mulherhomem e The Iconoclasts no Bacalhoeiro, um espaço normalmente dedicado a novos artistas nacionais e estiveram os Aveirenses The Underdogs no Lounge - também no Cais do Sodré.

Mas não nos fiquemos por aqui: apesar de, recentemente, termos assistido ao fecho de um dos mais importantes espaços lisboetas, o Cabaret Maxime, Lisboa tem ainda o Santiago Alquimista (mais dedicado ao rock mais alternativo), o Frágil (também no Bairro Alto do Botelhon), o Hot Club e o Onda Jazz (ambos mais dedicados à música improvisada), o Centro Cultural de Belém (quando há concertos), o Fórum Lisboa e, para espectáculos de maior envergadura, o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna, a Praça de Touros do Campo Pequeno e o Pavilhão Atlântico. Para além de todos estes clubes e salas lisboetas, tenho a certeza que qualquer cidadão que viva a noite da capital me indicaria mais uns quantos espaços onde passar a noite como o Jamaica, o Transmission ou o Europa, só para nos ficarmos pelo Cais do Sodré.

Sugiro ao senhor Rodrigo Affreixo que, da próxima vez que queira engrandecer a noite do Porto às custas da de Lisboa, faça uma pequena pesquisa - até a wikipedia pode ajudar, mas sugiro algo mais fiável como a Timeout Lisboa, que há bem pouco tempo dedicou uma bela edição à noite lisboeta.

1 comentários:

Anónimo disse...

Boa réplica. Mas valerá a pena perder tempo com discursos tão frívolos e pacóvios, ao modo mais infeliz e umbigueiro do Porto?