domingo, 17 de outubro de 2010

[Crítica] The Hold Steady - Heaven is Whenever / The Gaslight Anthem - American Slang

Ele diz que nos anos 90, os anos em que ele e a E Street Band estiveram parados, são anos de seca no que ao seu legado diz respeito. Ele, Bruce Springsteen, o Boss, e a sua E Street Band regressam em força nos anos 00 e lá surgem bandas capazes de prolongar esse seu legado: The Hold Steady e The Gaslight Anthem.

Não é difícil perceber o porquê de a crítica internacional estar a receber o quinto disco dos Hold Steady de forma mais fria - duas razões chegam para o justificar. Um: a saída do teclista Franz Nikolay é desculpa perfeita para referirmo-nos a Heaven is Whenever como um álbum de transição. Dois: sem que isso fosse referido directamente, os discos dos Hold Steady tinham um propósito e um objectivo que normalmente vinha desde logo escarrapachado no título - em 2006, com Boys and Girls in America, diziam na magnifica faixa título que os "Boys and girls in America, they've a sad, sad time together". Vivíamos os anos Bush e a afirmação fazia todo o sentido. Em 2008, editam Stay Positive e Obama sucede a Bush e surge uma nova esperança. Com este Heaven is Whenever vai-se o conteúdo político mais óbvio e contam-se as histórias adolescentes, histórias que podiam ter surgido nos primeiros anos.

Craig Finn continua a ser um Messias, um verdadeiro líder, alguém com capacidade de, com a sua palavra, comandar uma geração, fazer um bando de miúdos mexer-se e lutar por uma causa, seja essa causa uma miúda ou o raio de uma guerra injusta e sem sentido. No fundo, os Hold Steady são hoje um conjunto de quatro Nerds (sem conotação negativa) que têm Bruce Springsteen como inspiração maior e os Clash como inspiração menor. Regressam de dois em dois anos e gostam de nos lembrar como era aborrecido o tempo em que ainda não tinham uma banda. A receita é simples: um bom riff mais uma boa letra recitada com a intensidade que a de um vulcão que acabou de explodir em lava. Não há aqui nenhum riff como o da imortal "Boys and Girls in America", mas "Rock Problems" anda lá perto.

Os The Gaslight Anthem, no que diz respeito ao Boss, estão em vantagem relativamente aos The Hold Steady - a banda de Brian Fallon actuou com Bruce Springsteen na edição 2009 do mítico Glastonbury, com uma memorável performance de "59 Sound". Ou seja, Bruce Springsteen apadrinhou os seus fieis e, sim, 59 Sound, o disco, justificava-o.

Agora, ao terceiro disco, a banda de New Jersey mantém grande parte das premissas do anterior registo, mas com muito menos brilho. Vai do punk aos blues com uma sensibilidade melódica que permite criar hinos de estádio como "Bring it on", " The Diamond Church Street Choir" ou "American Slang", esta última de longe a melhor canção do álbum. "Old Haunts" obriga-nos a uma breve pesquisa a fim de verificar que esta não é uma participação especial do Boss, mas sim Fallon a aproximar-se como nunca do registo vocal de Springsteen.

Os The Gaslight Anthem de American Slang voltam a cantar a América, tal como o seu grande ídolo e influência. O problema é que as canções raramente nos chamam a atenção - são cuspidas com muita urgência, mas sem um gancho capaz de nos fazer lembrar os bons tempos de 59 Sound.

The Hold Steady - Heaven is Whenever - 7/10

The Gaslight Anthem - American Slang - 4/10

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