terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

[Crítica] Spoon - Transference / Eels - End Times

Dois projectos que construíram uma carreira com base na preserverança. Os Spoon regressam depois da surpresa que foi o relativo sucesso de Ga Ga Ga Ga Ga. Os Eels de Mr. E nem nos deixam respirar.


Os Spoon são uma instituição no meio alternativo. Década e meia de carreira e sete discos depois cá estão eles, tão longe do mainstream como sempre, mas com o estatuto de banda de culto, o que para uma banda como esta, que nega o grande público de forma tão veemente, até pode já ser demais.

Depois do sucesso crítico de Ga Ga Ga Ga Ga, álbum de 2007, Britt Daniel & cia podiam ter optado por dar o salto definitivo para o airplay radiofónico em vez andarem por cá a abrir festivais indie. Mas não, ainda que Transference não seja absolutamente devedor do antecessor, as coisas não mudaram assim tanto no muito próprio mundo dos Spoon.

O quarteto de Austin – que não soa a nada que venha do Texas – volta a presentear-nos com canções cheias de teclas e cordas - que por vezes andam ali a marinar até a um inesperado final, -, alguns efeitos na voz e uma produção a cargo da própria banda - e assim, podemos dizer com toda a certeza: Transference é o álbum mais Spoon dos Spoon.


Há cinco anos, em 2005, Mark Oliver Everett – também conhecido por Mr. E – separou-se da sua ex-mulher e companheira de vida Anna. Hoje, cinco anos depois, lança End Times, o "álbum do divórcio" diz-se, gravado na sua própria cave, nem 12 meses depois do último e excelente Hombre Lobo. Posto isto, fará este álbum sentido?

Atentando à vertente lírica de End Times não é difícil pensar neste álbum como um trabalho conceptual sobre a dor de corno e o artista amargurado, porque o amor da sua vida o deixou desamparado, desorientado, sem vontade de continuar a viver. Nesse sentido a coisa soa deslocada. Soaria genuíno se editado em 2005. Editado hoje, dá a ideia que Mr. E vasculhou o baú de canções perdidas e encontrou um fio condutor que lhe permitisse deitar qualquer coisa cá para fora. Por outro lado, End Times, diz o próprio Mr. E, pode se referir aos conturbados tempos de agora – tempos de crise, terramotos, tsunamis, guerras e aquecimento global.

É um disco cheio de letras ingénuas e deprimidas, mas também sentidas e genuínas. End Times vai na linha daquilo que os Noah And The Whale fizeram o ano passado com First Days Of Spring com muito melhores resultados.

Pena que a amargura tenha despertado o lado mais piroso de Mr. E. Poderia estar aqui mais um grande disco dos Eels. E digamos que nem os difíceis tempos que hoje vivemos desculpam cinco anos de atraso.


Spoon - 7/10

Eels - 5/10

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