quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

[Crítica] The Legendary Tigerman - Femina


"So What's The Plan Tigerman?” A questão surge logo à terceira canção e é colocada por Peaches, essa mesma, a doida varrida que não se importa de tornar um concerto ao vivo num quase motim. O plano é, respondemos nós por Paulo Furtado, colaborar com Simone de Oliveira e Marianne Faithfull. Perdão, “dizemos nós” o tanas. É Paulo Furtado quem o diz. Este disco, Femina, está longe de estar concluído.

Quando Peaches entra em campo já passámos por "Life Ain't Enough For Me", com Asia Argento, e "These Boots Are Made For Walkin'", com uma sensual Maria de Medeiros – imaginamo-la toda ela glamour, de lábios carregados junto ao microfone. O disco - sabe-se - é uma espécie de homenagem à mulher, um trabalho que deu um trabalhão e demorou ano e meio a tomar forma.

Há grandes doses de risco em construir um disco assim. Furtado já admitiu que nem todas as colaborações aqui incluídas são opções ou desejos de fã - apenas Asia Argento foi primeira escolha. Será então justo referir que Maria de Medeiros, Peaches, Becky Lee, Rita Redshoes, Lisa Kekaula, Cláudia Efe, Phoebe Kildeer, CIbelle e Mafalda Nascimento caíram aqui de pára-quedas? De todo. As canções podem não ter um fio que as ligue do princípio ao fim, mas é isso mesmo que impede este disco de se tornar num enorme bocejo. Tanto conseguimos imaginar Paulo Furtado a arranhar a guitarra em "Radio & TV Blues" como festejamos a soul de "The Saddest Thing To Say". A sensualidade – já o referimos – surge nessa "These Boots..." com Maria de Madeiros, mas volta também em "Light Me Up Twice" com Claudia Efe. Resvala para o lascivo em "& Then Come The Pain", com Phoebe Killdeer. Há também uma excelente versão de "Lonesome Town", com Rita Red Shoes que deveria reflectir os resultados desta fabulosa colaboração e tentar transpor para um futuro disco – os resultados criativos seriam com certeza melhores.

A guitarra de Tigerman não é dada a virtuosismos, é despreocupada e deixa-se levar pelas próprias canções. Ou seja, não chama a si todo o protagonismo, deixa as vozes brilhar. E não sai ofuscada.

Ao quarto disco Paulo Furtado, ou Legendary Tigerman, deixa-se levar por ambições maiores. Este é um disco que vai ser lembrado por muitos e muitos anos. É um bom disco. Pena que Furtado gaste quase todos os cartuxos nas dez primeiras canções. O último terço do disco não está ao nível do resto. Os Wraygunn que se cuidem. Paulo Furtado parece ter outras prioridades. E Marianne Faithfull não é propriamente uma mulher fácil.

7/10

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