segunda-feira, 4 de maio de 2009

[Música] Crítica: Novos discos de Bruce Springsteen, Bob Dylan e Neil Young

Aproveitemos enquanto produzem a bom ritmo. Estes três registos mostram-nos três artistas, antes de mais, a divertirem-se. Dylan vive, Springsteen sonha e Young acelera.


Bruce Sprinsgteen - Working on a Dream - 8/10

Bob Dylan - Together Through Life - 7/10

Neil Young - Fork in the Road - 6/10


Num momento em que ainda se ressaca Magic, Bruce Springsteen volta a atacar. Ainda bem! Working on a Dream surge na sequência desse manifesto politico editado no final de 2006 e foi escrito durante a digressão de promoção ao mesmo.

É um registo menos rock e mais pop que o antecessor e, acima de tudo, mais alegre. Atente-se, por exemplo, à apoteótica “My Lucky Day”, certamente a faixa mais alegre de Springsteen em muitos anos. Em 2009 o Boss tem razões para se sentir no topo do mundo. Onde Magic era intervenção, Working on a Dream é diversão. Não o censuremos por isso.

O terceiro álbum desde que Springsteen se voltou a reunir com a E-Street Band - em 1999 - contém uma óptima colecta de canções. Começa com um épico muito Enio Morricone “Outlaw Pete”, que poderia estar inserida numa banda-sonora e termina com “The Wrestler”, faixa-título do filme protagonizado por Mickey Rourke e vencedora de um Globo de Ouro na categoria de “Melhor Canção”, em Cannes. Ambas são grandes canções, ideais para começar e acabar o disco. “My Lucky Day” – já nos referimos a ela – é uma obra-prima que só por si já justificaria mais um álbum de Springsteen – irremediável destaque para os saxofones de Clarence Clemons. “Queen of the Supermarket” regressa a um registo mais épico, tem voz feminina a acompanhar e é uma enorme canção. “Good Eye” é tão crua que soa estranha neste corpo de canções e “Tomorrow Never Knows” é uma curta faixa country. “This Life” e “Life Itself” – tanta vida, meu deus! – também trazem o melhor de Springsteen à tona.

Grande disco!


Together Through Life sucede um muito bem recebido Modern Times, disco de 2006, que trouxe de novo Bob Dylan à ordem do dia. Aos 68 anos, mestre Dylan pode descurar de certos pormenores para aprimorar outros. E é isso mesmo que faz neste Together Through Life, disco que nasce a partir de “Life is Hard”, curiosamente a faixa mais facilmente colocaríamos de fora do álbum. Não que seja uma má canção – não o é -, mas é a que mais se afasta de um imaginário fio condutor. A história é simples. O realizador francês, Oliver Dahan, pediu a Dylan para fazer uma canção para o filme My Own Love Song. A partir da canção Dylan construiu um álbum.

À primeira vista não parece, mas estas canções são simples. As letras são das menos cuidadas em toda a discografia do compositor, mas nem por isso deixamos de acreditar nelas. Para abrilhantar o disco, o “poeta” chamou gente com provas dadas como David Hidalgo (Los Lobos) e Mike Campbell (Heartbreakers) que marcam presença em quase todas as canções.

Normalmente não é fácil perceber Bob Dylan – a biopic I’m Not There prova-o magistralmente -, mas desta vez podemos arriscar: Dylan está apenas a divertir-se à grande.

Dissecar um álbum de Bob Dylan há muito que passou a ser um exercício de análise a cada canção, uma a uma. Façamo-lo às primeiras canções em jeito de exemplo. “Beyond Here Lies Nothin” começa com uma toada muito característica. O músico pouco canta na faixa de abertura. Os instrumentos respiram em toda a sua plenitude - há guitarra eléctrica, sopros e acordeão. “Life is Hard” levanta a fasquia numa toada mais clara e enternecedora. Sente-se o agradável pentear da bateria. “My Wife’s Home Town” puxa para a alcoólatra voz de Tom Waits e mostra, a par de “It’s All Good”, o músico a divertir-se como se tivesse menos 50 anos de vida. Há ainda elementos acústicos em “If You Ever Go To Houstoun” – a prova de que este é um dos discos menos preocupado com as letras de Dylan – e agradáveis violinos em “This Dream of You”.

O álbum é produzido por Jack Frost, pseudónimo de Bob Dylan. Aproveitemos enquanto nos dá notícias com regularidade.


Fork in The Road é fácil de explicar, mas difícil de conceber – pelo menos para o ouvinte casual. É um álbum conceptual sobre um carro eléctrico. Melhor: é um documentário em que Neil Young está a trabalhar e no qual guia o seu velho Lincoln Continental de 1959 – agora alimentado a energias renováveis – pela América até chegar a Washington. Este conjunto de canções é a música que lhe está associada. Mais um apelo, mais uma causa. Mais um álbum político, portanto.

Nada do que está aqui é absolutamente extraordinário, mas não é esse o grande propósito de Neil Young em 2009. Nesta altura da carreira aparecer nas listas de balanço anual é secundário para o músico. Aliás, se atentarmos à mais recente discografia do músico tudo isto passa a ser menos surpreendente ou bizarro. Living With War era um claro manifesto anti-bush, por exemplo.

Este álbum contém algumas das canções que o fã de Young (provavelmente) terá vergonha de mostrar aos amigos, mas que serve perfeitamente os propósitos do disco. Canções rock para ouvir na estrada, um disco capaz de nos fazer viajar sem sair do lugar. E esse é o maior mérito de Fork in the Road.

Refira-se que este álbum não tem sido muito levado a sério. É favor reciclar-se Sr. Young. Só para fãs.

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