Com três palcos a servirem um recinto de médias dimensões, o Festival Super Bock Super Rock juntou alguma da melhor colheita “indie” dos últimos tempos a alguns nomes da soul – nova e “velha” – num cartaz impressionante.
Dia 16:
No primeiro dia subiram ao palco os dois grandes OVNIS do festival: Keane e Pet Shop Boys. Relativamente aos Keane nada a apontar: não vimos o concerto. Dos Pet Shop Boys sobressaiu um espectáculo cheio de artifícios, uma incrível falta de dinâmica e um desfilar de canções tal e qual como estas aparecem em disco. Os Pet Shop Boys não arriscaram o que quer que fosse. Os Pet Shop Boys já não arriscam nada. Os Pet Shop Boys ultrapassaram o prazo de validade. Nunca foram grande coisa, hoje são penosos. Antes, Jamie Lidell tinha inaugurado o palco em grande forma. Com “Compass”, o sucessor do muito bem sucedido “Multiply”, na bagagem, Lidell voltou a mostrar que, embora o novo disco não gere consensos, em palco continua a ser memorável . Das bandas pre-load assistimos a algumas partes dos concertos, mas nenhuma das três se destacou. St. Vincent subiu ao Palco EDP à hora do por do sol. Fez todo o sentido – esta música é uma óptima banda sonora para se ouvir deitado na relva com o sol a esconder-se no horizonte. A rapariga pode ser muito talentosa – assim pareceu, de facto -, mas não está talhada para este tipo de palco. Aos Beach House pertenceu o concerto da noite. Este foi o primeiro concerto do duo ao ar livre e o espectáculo parece só ter a ganhar com isso. Canções como “Gila”, “Zebra”, “Silver Soul” ou “Walk In the Park” ganham uma dimensão ainda maior. Tudo muito bonitinho, tudo perfeito. Não conseguimos ver a actuação dos Temper Trap nem a de Mayer Hawthorne. Dos Cut Copy vimos meia-dúzia de minutos – pareceu-nos que a banda australiana estava a cumprir a principal missão a que se propõe: fazer dançar os milhares de presentes ao som das canções do bem sucedido, mas nem por isso entusiasmante “In Ghost Colours”. A fechar o palco EDP estiveram os Grizzly Bear. Já os vimos fazer melhor no Coliseu dos Recreios. Nem a participação de Victoria Legrand, dos Beach House, conseguiu elevar a fasquia para outros níveis. Foi um mau concerto? Não, mas continua a faltar qualquer coisa aos Grizzly Bear para se tornarem gigantes ao vivo. Continuamos sem perceber o que é – e, pelos vistos, a banda também.
Dia 17:
A abrir o Palco Super Bock, no segundo dia, esteve Tiago Bettencourt. Erro de casting. O ex-líder dos Toranja devia estar no EDP. As desmedidas dimensões do Palco Super Bock retiraram qualquer hipótese das canções de Bettencourt brilharem. Não é que o músico seja de excepção, mas fica a ideia que, noutras condições o concerto não teria sido uma seca tremenda. Desistimos à quarta canção. Seguiu-se Julian Casablancas, um dos mais esperados da noite. O líder dos Strokes não estaria nas melhores condições, mas mesmo assim subiu ao palco. Apresentou várias canções do novo disco, cantou “Hard to Explain” e “Automatic Stop” e, ao fim de 45 minutos, saiu do palco com um seco “Obrigado” para não mais voltar. Amuo ou indisposição? Continuamos a não saber responder. Depois os Hot Chip. A electrónica que também é rock e que, no fundo, é indie, contagiou uma assistência que só precisava de um pretexto para saltar e dançar como se os Hot Chip fossem a “next big thing” da música de dança. Não são, nem sequer andam lá perto, mas a continuarem assim rapidamente vão-se tornar numa banda estádio. Entretanto, no palco secundário, já tinham actuado Holly Miranda – guitarras épicas, mais uma voz feminina a quer furar as convenções indie e uma agradável surpresa – e uma Rita Red Shoes igual a sempre: enfadonha e de gosto discutível. De Patrick Watson vimos três canções. Muitas cordas (violinos e guitarras acústicas à cabeça) e um registo tão épico quanto clássico. Não conseguimos ficar mais tempo, porque do outro lado os Vampire Weekend estavam prestes a entrar em palco, mas o que vimos prometia um concerto memorável, principalmente para os mais aficionados. Os Vampire Weekend deram o concerto da noite. Não! Os Vampire Weekend deram o concerto do festival, pelo menos até ao final do segundo dia – um pequeno génio de Minneapolis trocou-lhes as voltas. Começaram com artilharia pesada: “Holiday” tem potencial para se tornar num hino de Verão tardio, desfilaram êxitos com a energia juvenil que os caracteriza. O novo “Contra” pode não ser tão bom quanto a aclamada estreia, mas é um belo álbum pop com influências africanas. Lembramo-nos de Paul Simon, mas também lembramo-nos de Ali Farka Touré que africanizou as influências ocidentais. Os Vampire Weekend fazem o contrario, ocidentalizam as influências africanas. O resultado é quase perfeito. Fazem todo o sentido aqui e agora: hoje. Dos Leftfield vimos meia-dúzia de minutos e não conseguimos perceber porque é que um dia isto chegou a ser alvo de algum culto.
Dia 18:
Ao terceiro dia, o Super Bock Super Rock encheu-se de gente de todas as idades para o “Artista” mais aguardado do evento: Prince. O dia começou cedo com os Palma’s Gang. Acompanhado de, entre outros, Zé Pedro dos Xutos & Pontapés, Jorge Palma fez desfilar várias canções, que, tendo em conta o actual momento da música portuguesa, soam a fora do prazo de validade. Prazo de validade é algo que os Stereophonics já ultrapassaram há muito tempo. A mediania da banda britânica nunca mais do que isso e o público só despertou quando “Dakota” e “Have a Nice Day” fecharam o concerto. Seguiram-se os Spoon e as suas canções perfeitas que vêm de discos quase perfeitos que quase ninguém tinha reparado até à aclamação critica de “Ga Ga Ga Ga Ga”, extraordinário disco de 2007. O novo “Transference” volta a manter a fasquia, ainda que não a eleve a um novo patamar e os Spoon continuam irrepreensíveis ao vivo. Coube aos National actuar antes de Prince. A banda de Matt Berllinger voltou a fabricar uma obra-prima- “High Violet” é isso mesmo, uma obra-prima quase tão obra-prima quanto o enorme “Boxer”. Canções como “Apartment Story”, “Fake Empire” ou “Squalior Victoria” convivem na perfeição com novos temas como “Terrible Love” “Afraid of Everyone”, “Anyone’s Ghost” ou “Bloodbuzz Ohio”. Estas e outras grandes canções transformam qualquer espectáculo dos National num momento de catarse colectiva, a que parece que vamos voltar a ter direito no início de 2011. Aguardamos ansiosamente. Antes de Prince, viajámos várias vezes até ao Palco EDP. Dos Morning Benders só ouvimos a última canção, um dos singles do ano, “Excuses”. Dos Wild Beasts vimos um pouco mais. Registo falsete, vocalista com ares de Zé Zé Camarinha e uma actuação que nos pareceu caminhar para adjectivos como “sólido” e “competente”. Infelizmente, graças aos National, não conseguimos assistir a nem um minuto de Sharon Jones & The Dap Kings. A fechar o Palco EDP, os John Butler Trio levaram a sua legião de fieis com eles e não desiludiram – pelo menos nas primeiras cinco/seis canções. Entretanto o Rei – qual Prince! – subiu ao Palco Super Bock para uma actuação histórica. Soul, mas mesmo muita soul, conduzida pelos dotes de guitarra inequívocos do grande “Artista” – qual João Vieira Pinto! Quando saiu para encore, tínhamos quase uma hora de actuação em cima, já sabíamos que Prince voltaria acompanhado. Voltou com Ana Moura e, sim, subjugou-se à portuguesa, acompanhando-a em dois fados conduzidos pela voz da fadista e pela guitarra eléctrica – sim, eléctrica - de Prince. Mas havia mais. Haviam que puxar pela garganta do povo. Não faltaram, claro, êxitos como “Kiss” e “Purple Rain” – muito longa, mas nem por isso enfadonha. Acabou por deixar o palco, que entretanto se tinha tornado numa grande pista de dança, com “Dance (Disco Heat)” de Sylvester. Memorável. Pouco memorável foi o concerto dos Empire of the Sun. Relatos de Inglaterra diziam-nos que o projecto de Luke Steele tinha falhado na sua missão de colocar as dezenas de milhar de pessoas a dançar no Glastonbury. Em Portugal terá sido melhor. De facto, muita gente se deixou contagiar pelas medíocres canções do álbum de estreia, mas exige-se mais quando o que está em causa é o fecho de um festival. E esse deveria ter sido em beleza. Com Prince, por exemplo.
Nota: A foto não pertence ao evento em questão
Dia 16:
No primeiro dia subiram ao palco os dois grandes OVNIS do festival: Keane e Pet Shop Boys. Relativamente aos Keane nada a apontar: não vimos o concerto. Dos Pet Shop Boys sobressaiu um espectáculo cheio de artifícios, uma incrível falta de dinâmica e um desfilar de canções tal e qual como estas aparecem em disco. Os Pet Shop Boys não arriscaram o que quer que fosse. Os Pet Shop Boys já não arriscam nada. Os Pet Shop Boys ultrapassaram o prazo de validade. Nunca foram grande coisa, hoje são penosos. Antes, Jamie Lidell tinha inaugurado o palco em grande forma. Com “Compass”, o sucessor do muito bem sucedido “Multiply”, na bagagem, Lidell voltou a mostrar que, embora o novo disco não gere consensos, em palco continua a ser memorável . Das bandas pre-load assistimos a algumas partes dos concertos, mas nenhuma das três se destacou. St. Vincent subiu ao Palco EDP à hora do por do sol. Fez todo o sentido – esta música é uma óptima banda sonora para se ouvir deitado na relva com o sol a esconder-se no horizonte. A rapariga pode ser muito talentosa – assim pareceu, de facto -, mas não está talhada para este tipo de palco. Aos Beach House pertenceu o concerto da noite. Este foi o primeiro concerto do duo ao ar livre e o espectáculo parece só ter a ganhar com isso. Canções como “Gila”, “Zebra”, “Silver Soul” ou “Walk In the Park” ganham uma dimensão ainda maior. Tudo muito bonitinho, tudo perfeito. Não conseguimos ver a actuação dos Temper Trap nem a de Mayer Hawthorne. Dos Cut Copy vimos meia-dúzia de minutos – pareceu-nos que a banda australiana estava a cumprir a principal missão a que se propõe: fazer dançar os milhares de presentes ao som das canções do bem sucedido, mas nem por isso entusiasmante “In Ghost Colours”. A fechar o palco EDP estiveram os Grizzly Bear. Já os vimos fazer melhor no Coliseu dos Recreios. Nem a participação de Victoria Legrand, dos Beach House, conseguiu elevar a fasquia para outros níveis. Foi um mau concerto? Não, mas continua a faltar qualquer coisa aos Grizzly Bear para se tornarem gigantes ao vivo. Continuamos sem perceber o que é – e, pelos vistos, a banda também.
Dia 17:
A abrir o Palco Super Bock, no segundo dia, esteve Tiago Bettencourt. Erro de casting. O ex-líder dos Toranja devia estar no EDP. As desmedidas dimensões do Palco Super Bock retiraram qualquer hipótese das canções de Bettencourt brilharem. Não é que o músico seja de excepção, mas fica a ideia que, noutras condições o concerto não teria sido uma seca tremenda. Desistimos à quarta canção. Seguiu-se Julian Casablancas, um dos mais esperados da noite. O líder dos Strokes não estaria nas melhores condições, mas mesmo assim subiu ao palco. Apresentou várias canções do novo disco, cantou “Hard to Explain” e “Automatic Stop” e, ao fim de 45 minutos, saiu do palco com um seco “Obrigado” para não mais voltar. Amuo ou indisposição? Continuamos a não saber responder. Depois os Hot Chip. A electrónica que também é rock e que, no fundo, é indie, contagiou uma assistência que só precisava de um pretexto para saltar e dançar como se os Hot Chip fossem a “next big thing” da música de dança. Não são, nem sequer andam lá perto, mas a continuarem assim rapidamente vão-se tornar numa banda estádio. Entretanto, no palco secundário, já tinham actuado Holly Miranda – guitarras épicas, mais uma voz feminina a quer furar as convenções indie e uma agradável surpresa – e uma Rita Red Shoes igual a sempre: enfadonha e de gosto discutível. De Patrick Watson vimos três canções. Muitas cordas (violinos e guitarras acústicas à cabeça) e um registo tão épico quanto clássico. Não conseguimos ficar mais tempo, porque do outro lado os Vampire Weekend estavam prestes a entrar em palco, mas o que vimos prometia um concerto memorável, principalmente para os mais aficionados. Os Vampire Weekend deram o concerto da noite. Não! Os Vampire Weekend deram o concerto do festival, pelo menos até ao final do segundo dia – um pequeno génio de Minneapolis trocou-lhes as voltas. Começaram com artilharia pesada: “Holiday” tem potencial para se tornar num hino de Verão tardio, desfilaram êxitos com a energia juvenil que os caracteriza. O novo “Contra” pode não ser tão bom quanto a aclamada estreia, mas é um belo álbum pop com influências africanas. Lembramo-nos de Paul Simon, mas também lembramo-nos de Ali Farka Touré que africanizou as influências ocidentais. Os Vampire Weekend fazem o contrario, ocidentalizam as influências africanas. O resultado é quase perfeito. Fazem todo o sentido aqui e agora: hoje. Dos Leftfield vimos meia-dúzia de minutos e não conseguimos perceber porque é que um dia isto chegou a ser alvo de algum culto.
Dia 18:
Ao terceiro dia, o Super Bock Super Rock encheu-se de gente de todas as idades para o “Artista” mais aguardado do evento: Prince. O dia começou cedo com os Palma’s Gang. Acompanhado de, entre outros, Zé Pedro dos Xutos & Pontapés, Jorge Palma fez desfilar várias canções, que, tendo em conta o actual momento da música portuguesa, soam a fora do prazo de validade. Prazo de validade é algo que os Stereophonics já ultrapassaram há muito tempo. A mediania da banda britânica nunca mais do que isso e o público só despertou quando “Dakota” e “Have a Nice Day” fecharam o concerto. Seguiram-se os Spoon e as suas canções perfeitas que vêm de discos quase perfeitos que quase ninguém tinha reparado até à aclamação critica de “Ga Ga Ga Ga Ga”, extraordinário disco de 2007. O novo “Transference” volta a manter a fasquia, ainda que não a eleve a um novo patamar e os Spoon continuam irrepreensíveis ao vivo. Coube aos National actuar antes de Prince. A banda de Matt Berllinger voltou a fabricar uma obra-prima- “High Violet” é isso mesmo, uma obra-prima quase tão obra-prima quanto o enorme “Boxer”. Canções como “Apartment Story”, “Fake Empire” ou “Squalior Victoria” convivem na perfeição com novos temas como “Terrible Love” “Afraid of Everyone”, “Anyone’s Ghost” ou “Bloodbuzz Ohio”. Estas e outras grandes canções transformam qualquer espectáculo dos National num momento de catarse colectiva, a que parece que vamos voltar a ter direito no início de 2011. Aguardamos ansiosamente. Antes de Prince, viajámos várias vezes até ao Palco EDP. Dos Morning Benders só ouvimos a última canção, um dos singles do ano, “Excuses”. Dos Wild Beasts vimos um pouco mais. Registo falsete, vocalista com ares de Zé Zé Camarinha e uma actuação que nos pareceu caminhar para adjectivos como “sólido” e “competente”. Infelizmente, graças aos National, não conseguimos assistir a nem um minuto de Sharon Jones & The Dap Kings. A fechar o Palco EDP, os John Butler Trio levaram a sua legião de fieis com eles e não desiludiram – pelo menos nas primeiras cinco/seis canções. Entretanto o Rei – qual Prince! – subiu ao Palco Super Bock para uma actuação histórica. Soul, mas mesmo muita soul, conduzida pelos dotes de guitarra inequívocos do grande “Artista” – qual João Vieira Pinto! Quando saiu para encore, tínhamos quase uma hora de actuação em cima, já sabíamos que Prince voltaria acompanhado. Voltou com Ana Moura e, sim, subjugou-se à portuguesa, acompanhando-a em dois fados conduzidos pela voz da fadista e pela guitarra eléctrica – sim, eléctrica - de Prince. Mas havia mais. Haviam que puxar pela garganta do povo. Não faltaram, claro, êxitos como “Kiss” e “Purple Rain” – muito longa, mas nem por isso enfadonha. Acabou por deixar o palco, que entretanto se tinha tornado numa grande pista de dança, com “Dance (Disco Heat)” de Sylvester. Memorável. Pouco memorável foi o concerto dos Empire of the Sun. Relatos de Inglaterra diziam-nos que o projecto de Luke Steele tinha falhado na sua missão de colocar as dezenas de milhar de pessoas a dançar no Glastonbury. Em Portugal terá sido melhor. De facto, muita gente se deixou contagiar pelas medíocres canções do álbum de estreia, mas exige-se mais quando o que está em causa é o fecho de um festival. E esse deveria ter sido em beleza. Com Prince, por exemplo.
Nota: A foto não pertence ao evento em questão
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