Duas das vacas sagradas do grunge regressam aos discos. Os Pearl Jam regressam três anos depois de um morno disco homónimo. Os Alice In Chains (AiC) não gravavam há década e meia. Esta semana Chris Cornell e Jerry Catrell – guitarrista dos AiC – juntaram-se aos Pearl Jam, num espectáculo da banda de Eddie Vedder e companhia. Cantaram-se, desde logo, louvores ao grunge. Será esta a sua ressurreição? Ou apenas uma feliz coincidência?
Backspacer é já o nono disco dos Pearl Jam. Quase 20 anos depois da sua formação, os grandes sobreviventes do movimento que celebrizou Seattle parecem "apenas" interessados em editar boas canções rock e em divertirem-se em palco. Não é revolucionário, mas parece suficiente. A cada disco da banda de Ten lá aparece mais uma ou duas canções que nos fazem ansiar por um espectáculo ao vivo em terras lusas. Em Backspacer é "Gonna See My Friend", canção que abre o disco, que nos entusiasma. É pesada, raivosa, lascíva, uma excelente canção.
As canções são curtas e só por duas vezes ultrapassam o limite dos quatro minutos. Backspacer segue a linha de Pearl Jam, mas tem aquilo que faltava ao seu antecessor, bons riff's, boas melodias...boas canções. Atente-se, por exemplo, a "The Fixer" e "Just Breathe". A primeira é um óbvio primeiro single e tem o selo das melhores canções de Verão. A segunda é uma ode à vida, a vida que os Pearl Jam aprenderam a dar valor.
Com Brendan O'Brien na produção – não gravava com a banda desde Yield –, já não há espaço para os grandes malabarismos técnicos dos primeiros tempos. É a tal história das canções descomprometidas, mais como pretexto para continuar a subir a um palco que para deixar marca neste moribundo mundo discográfico.
Este é um disco de quem já alcançou tudo aquilo que há para alcançar – e isso implica a imortalidade da marca Pearl Jam. Um disco de quem já não tem nada a provar. É um bom disco, ao contrário da maior parte dos discos de gente que não tem mais nada a provar.
Com os Alice In Chains o assunto é bem mais complicado. Foram 14 anos de hiato discográfico, sete sem Layne Staley e uma bem sucedida digressão que apresentou William DuVall, o talentoso vocalista dos Come With The Fall. Apesar das colagens ao fenómeno grunge, desde os anos 90 que os Alice In Chains se distinguiam das demais bandas de Seattle. A sonoridade é mais dura, mais pesada, mais lenta. No fundo, os AiC praticavam um hard-rock em que tanto a parte instrumental como a voz se parecem arrastar.
Dirt, o clássico que merecia mais menções que aquelas a que tem direito, imortalizou a banda e, acima de tudo, Layne Staley, o amargurado vocalista que se viria a suicidar no mesmo dia que Kurt Cobain, oito anos depois. Não era, pois, de todo expectável este regresso aos discos.
"Hope, a New Beginning", ouve-se logo na primeira canção, "All Secrets Known". As palavras de Jerry Cantrell dispensam qualquer tipo de tradução. É como que um atirar à cara dos mais cépticos a ideia de "estamos de volta e não queremos saber se gostam ou não".
A voz de DuVall, ainda que similar, não é uma cópia de Staley. Está entre o malogrado vocalista e Chris Cornell. "Your Decision" mais parece uma balada dos Seether, o que não é necessariamente mau. A banda Shaun Morgan é muitas vezes subvalorizada. Em "Last Of My Kind" arrepiamo-nos ao ouvir da boca de DuVall as palavras "So Young, So Brazen, So Unholy” e na faixa título, a que fecha o disco, é com surpresa que reparamos que é Elton John que está no piano.
O problema de Black Give Way To Blue é que parece grande parte das canções parecem arrastar-se até ao final. São demasiado longas e numerosas. É um regresso que não compromete sem impressionar.
Backspacer - 7/10
Black Give Way To Blue - 5/10
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