Em resposta ao comentário «Que bem se está no Porto!» de Rodrigo Affreixo publicado no suplemento Ípsilon, do Jornal Público.
Não me incomoda o facto de Rodrigo Affreixo colocar o Porto como uma espécie de Meca cultural - o que contradiz aquilo que se tem dito nos últimos tempos acerca daquela que foi a Capital Europeia da Cultura, no longínquo ano de 2001. Incomoda-me sim, a falta de coerência e a falta de informação – esta última justificada no momento em que coloca, lado a lado, Lisboa e Porto, limitando-se à comparação fácil.
Relativamente à falta de coerência: Começa por referir que "se compararmos o que temos hoje no Porto com o que há em Lisboa, com 300 e tal quilómetros de distância entre as duas cidades, não nos podemos queixar muito...", para depois referir "O que nos falta mais? A Cinemateca Portuguesa. É uma das melhores do mundo e está sediada em Lisboa. Paciência, também tem de ficar alguma coisa na capital...". Então de um "não nos podemos queixar muito, o senhor Rodrigo Affreixo passou para um "também tem de ficar alguma coisa na capital..."? Por favor, alguma coerência senhor Rodrigo Affreixo.
Mas pior é quando o senhor Rodrigo Affreixo tenta comparar os espaços nocturnos existentes em Lisboa e no Porto. Para Rodrigo Affreixo o Porto tem o Hard Club, o Passos Manuel, o Becas, o Maus Hábitos, o Plano B, o Armazém do Chá, o Café do Lait, o Gare, o Pitch, o Trintaeum, o Industria, o Café Lusitano e o Zoom. Para Rodrigo Affreixo, Lisboa tem o Bairro Alto – que, atenção, nem é um espaço, no máximo será um espaço com vários espaços lá dentro - e o Lux. Lisboa nocturna, portanto, segundo Rodrigo Affreixo, resume-se ao Bairro Alto e o seu botellón e a uma discoteca.
Senhor Rodrigo Affreixo: posso-lhe referir que, só no dia em que lhe escrevo, Lisboa vai receber Kimi Djabaté no Musicbox - um clube com uma incrível variedade programática e que fica (não sei se conhece) no Cais do Sodré -, o trompetista Peter Evans na Galeria Zé dos Bois, no Bairro Alto - afinal não há só botellón - e Hercules & The Love Affair no seu preferido Lux. Mas há mais: vão estar novos projectos nacionais como os Mulherhomem e The Iconoclasts no Bacalhoeiro, um espaço normalmente dedicado a novos artistas nacionais e estiveram os Aveirenses The Underdogs no Lounge - também no Cais do Sodré.
Mas não nos fiquemos por aqui: apesar de, recentemente, termos assistido ao fecho de um dos mais importantes espaços lisboetas, o Cabaret Maxime, Lisboa tem ainda o Santiago Alquimista (mais dedicado ao rock mais alternativo), o Frágil (também no Bairro Alto do Botelhon), o Hot Club e o Onda Jazz (ambos mais dedicados à música improvisada), o Centro Cultural de Belém (quando há concertos), o Fórum Lisboa e, para espectáculos de maior envergadura, o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna, a Praça de Touros do Campo Pequeno e o Pavilhão Atlântico. Para além de todos estes clubes e salas lisboetas, tenho a certeza que qualquer cidadão que viva a noite da capital me indicaria mais uns quantos espaços onde passar a noite como o Jamaica, o Transmission ou o Europa, só para nos ficarmos pelo Cais do Sodré.
Sugiro ao senhor Rodrigo Affreixo que, da próxima vez que queira engrandecer a noite do Porto às custas da de Lisboa, faça uma pequena pesquisa - até a wikipedia pode ajudar, mas sugiro algo mais fiável como a Timeout Lisboa, que há bem pouco tempo dedicou uma bela edição à noite lisboeta.
1 comentários:
Boa réplica. Mas valerá a pena perder tempo com discursos tão frívolos e pacóvios, ao modo mais infeliz e umbigueiro do Porto?
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